Visão geral das complicações da gestação

Última revisão: 4 Sep 2023
Última atualização: 18 Apr 2023

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Introdução

Condição
Descrição

Os cuidados pré-natais são um componente importante de uma gestação saudável. Cuidados pré-natais regulares ajudam a identificar e tratar complicações e a promover comportamentos saudáveis.

As náuseas e vômitos da gravidez, comumente conhecidos como enjoo matinal, manifestam-se tipicamente entre a quarta e a oitava semanas após o último período menstrual. Elas se caracterizam por náuseas e vômitos que ocorrem com mais frequência pela manhã e tipicamente remitem completamente no segundo trimestre. As náuseas e vômitos da gravidez afetam a maioria das gestantes. A hiperêmese gravídica é a forma mais grave de náuseas e vômitos da gravidez, e caracteriza-se por vômitos persistentes, depleção de volume, cetose, distúrbios eletrolíticos e perda de peso.

Gestantes e lactantes apresentam um aumento na demanda de folato, o que pode resultar em deficiência de folato. A deficiência de folato durante a gestação está fortemente associada a defeitos do tubo neural fetal, 70% dos quais podem ser evitados ao aumentar a suplementação com ácido fólico.[1][2][3]

Nas gestantes, define-se a anemia ferropriva como hemoglobina <11 g/dL (110 g/L).[4] Os sintomas incluem fadiga, baixos níveis de energia e dispneia ao esforço. A gravidez aumenta a demanda de ferro com uma perda líquida de aproximadamente 580 mg de ferro durante o período de gestação, com a maior perda ocorrendo no terceiro trimestre.[5][6] A deficiência de ferro durante os primeiros 2 trimestres está associada a um aumento dos partos prematuros e bebês com baixo peso ao nascer.[7]

Definido como uma perda involuntária e espontânea da gestação antes de completadas 20-24 semanas (a gestação varia de acordo com o país).[8] Está associado a um sangramento vaginal não provocado, com ou sem dor suprapúbica. O aborto espontâneo ocorre em até um terço das gestações.[9][10][11][12][13] Dosagens seriadas da gonadotrofina coriônica humana subunidade beta (beta-hCG) sérica e a ultrassonografia transvaginal ajudam no diagnóstico.

Mais da metade das mulheres com abortamento habitual apresentam abortamento habitual inexplicado ou idiopático, no qual nenhuma causa ou associação pode ser identificada.[14][15] A idade materna avançada e o número de abortos espontâneos prévios aumentam o risco de futuros abortos espontâneos. Associações definitivas de abortamento habitual incluem anomalias cromossômicas, síndrome antifosfolipídica, certas anomalias uterinas estruturais como incompetência cervical e algumas trombofilias.

Definida como um óvulo fertilizado que se implanta e amadurece fora da cavidade endometrial uterina, sendo o local mais comum as tubas uterinas (97%), seguido pelo ovário (3.2%) e pelo abdome (1.3%).[16] Os sinais e sintomas clássicos são dor, sangramento vaginal e amenorreia.[17] Os sinais de alerta que sugerem uma possível ruptura incluem sinais vitais instáveis (trocas ortostáticas), sangue na cúpula vaginal ou sinais de sangramento intraperitoneal (por exemplo, abdome agudo, dor no ombro ou dor à mobilização do colo). O risco aumenta com gravidez ectópica prévia, cirurgia tubária, história de infecções sexualmente transmissíveis, tabagismo, fertilização in vitro ou se estiver grávida apesar do uso de DIU.

Ela é definida como a placenta cobrindo o óstio cervical. Pode ser completa, parcial, marginal ou de inserção baixa. Placenta prévia parcial, marginal e de inserção baixa podem se resolver conforme a evolução da gestação. A placenta prévia sintomática geralmente se apresenta como um sangramento vaginal indolor no segundo ou terceiro trimestre.[18][19][20] Fatores de risco incluem cicatrização uterina (mais comumente em decorrência de parto cesáreo prévio), idade materna avançada, tabagismo, gestações múltiplas prévias/intervalo curto entre as gestações ou abortos espontâneos/induzidos, placenta prévia anterior, tratamento de infertilidade e uso de substâncias ilícitas.

As molas hidatiformes são gestações cromossomicamente anormais que têm o potencial de se tornarem malignas (neoplasia trofoblástica gestacional). A doença trofoblástica gestacional (DTG) abrange tumores de tecidos fetais, incluindo as molas hidatiformes, que brotam de trofoblastos placentários. O sintoma de apresentação mais comum é o sangramento vaginal, presente nas pacientes caracteristicamente no primeiro trimestre. As mulheres estão comumente nos extremos da vida reprodutiva (idade inferior a 20 anos ou superior a 35 anos) e podem relatar uma história de DTG anterior.[21][22]

As causas da dor abdominal no início da gestação incluem gravidez ectópica, aborto espontâneo e síndrome de hiperestimulação ovariana. As causas no final da gestação incluem trabalho de parto prematuro, corioamnionite, ruptura uterina, descolamento da placenta, síndrome HELLP e esteatose hepática aguda da gravidez. Entre as causas ginecológicas estão as massas anexiais e os miomas. Outras etiologias podem ser urológicas (por exemplo, infecções do trato urinário [ITUs], pielonefrite aguda, nefrolitíase e hidronefrose), gastrointestinais (por exemplo, apendicite, colecistite, pancreatite e obstrução intestinal), etiologias relacionadas a trauma e musculoesqueléticas.

Definida pela pressão arterial ≥140/90 mmHg em duas ocasiões (com um intervalo de, pelo menos, 4 horas) após a vigésima semana de gestação em uma mulher previamente normotensa, sem a presença de proteinúria (<300 mg/24 horas) ou outra característica clínica indicativa de pré-eclâmpsia (trombocitopenia, comprometimento da função hepática ou renal, edema pulmonar, novo episódio de cefaleia). Geralmente, a gestante é assintomática. Os fatores de risco incluem nuligestação, etnia negra ou hispânica e mães que nasceram com tamanho pequeno para a idade gestacional.[23][24][25][26][27][28] A hipertensão gestacional aumenta o risco de macrossomia, parto cesáreo e internação do recém-nascido na unidade de terapia intensiva. A coexistência de diabetes gestacional aumenta ainda mais o risco.[29]

Desenvolve-se durante a gestação e geralmente é reconhecido pelo rastreamento entre as semanas 24 e 28 de gestação com base nos níveis elevados de glicose plasmática no teste de tolerância à glicose. Os fatores de risco incluem idade materna avançada (>40 anos), IMC elevado, síndrome do ovário policístico, ascendência não branca, história familiar de diabetes do tipo 2, sedentarismo e diabetes gestacional prévio.[30][31][32][33][34][35][36][37][38] As sequelas incluem macrossomia fetal, parto cesáreo, lesões no nascimento e hipoglicemia ou policitemia neonatais.

Além disso, a gestação pode sofrer complicações causadas por diabetes do tipo 1 ou 2 preexistentes.

Uma infecção dos rins, bexiga ou uretra. As infecções do trato urinário (ITUs) na gestação são consideradas ITUs complicadas. As gestantes devem ser examinadas para verificar a presença de bacteriúria assintomática, uma vez que esta tem sido associada a taxas mais elevadas de pielonefrite e de trabalho de parto prematuro.[39][40]

A vaginose bacteriana continua a ser a principal causa de vaginite; outras causas infecciosas comuns incluem tricomoníase e candidíase, apesar de causas não infecciosas também serem possíveis. Sintomas comuns incluem corrimento, prurido e dispareunia. Vaginose bacteriana e tricomoníase têm sido associadas a parto prematuro, baixo peso ao nascer e ruptura prematura de membranas.

Uma infecção transmitida por alimentos causada por um bacilo móvel, não formador de esporos e Gram-positivo. As gestantes são orientadas a evitar legumes e verduras crus e não lavados, carne crua ou malcozida (frango, carne de vaca, carne de porco), restos de alimentos, queijos frescos, leite não pasteurizado ou seus derivados. As gestantes podem ter sintomas tipo gripe (letargia, febre, artralgias, mialgias, calafrios, fadiga, diarreia, vômitos e dor abdominal).[41]

Trata-se de uma doença parasitária causada pelo protozoário Toxoplasma gondii. Propagam-se por meio de alimentos ou água contaminada com oócitos, carne infectada ou contato com oócitos em fezes de felinos. A transmissão pela placenta ocorre apenas quando as pacientes soronegativas contraem a toxoplasmose durante a gestação. A infecção primária durante a gestação é frequentemente assintomática na mãe, mas pode resultar em morte fetal e anormalidades congênitas graves (por exemplo, deficiência intelectual e cegueira). As infecções fetais no terceiro trimestre são frequentemente assintomáticas no momento do parto. No entanto, elas podem ocasionar problemas meses ou anos mais tarde.[42] Em alguns países (por exemplo, França), recomenda-se a realização de rastreamento pré-natal de rotina para Toxoplasma.

O citomegalovírus (CMV) é um beta-herpes-vírus onipresente que infecta a maioria dos seres humanos e estabelece um estado de latência vitalício nas células do hospedeiro. As reativações subclínicas periódicas são controladas por um sistema imunológico ativo. Fetos imunologicamente vulneráveis apresentam risco de doença congênita por CMV e de suas complicações, como perda auditiva e deficit neurológico. As mães gestantes devem lavar as mãos regular e cuidadosamente para evitar a infecção primária (geralmente assintomática).

A infecção materna na gravidez, particularmente no início da gestação, pode causar aborto espontâneo, morte fetal ou um amplo espectro de anomalias anatômicas e laboratoriais (síndrome da rubéola congênita). A consulta com um especialista é altamente recomendada para gestantes expostas à rubéola.

Achados clínicos característicos incluem febre, exantema maculopapular pruriginoso (às vezes, morbiliforme), artralgia e conjuntivite não purulenta.[43] Não foram descritas diferenças no quadro clínico entre pacientes gestantes e não gestantes.

A síndrome de Zika congênita é um padrão de anomalias congênitas (ou seja, microcefalia, calcificações intracranianas ou outras anomalias cerebrais, ou anomalias oculares, entre outras) em lactentes associadas à infecção do vírus da Zika durante a gestação.[44][45][46][47]

Recomenda-se que todas as gestantes façam o teste para infecção por HIV o mais cedo possível na gestação.[48] Todas as gestantes com HIV devem receber terapia antirretroviral (TAR), o mais rápido possível na gravidez, independentemente da contagem de CD4 ou da carga viral.

Estreptococos do grupo B, também conhecidos como Streptococcus agalactiae, são bactérias gram-positivas que colonizam normalmente o trato gastrintestinal, períneo e vagina. Essas bactérias podem causar infecções invasivas em qualquer idade, mas são mais comuns no período neonatal, nos idosos e em adultos com fatores predisponentes (isto é, gestação, diabetes e imunocomprometidos).

A colestase intra-hepática gestacional (CIG) é um distúrbio caracterizado por prurido materno (coceira) e disfunção hepática, na ausência de outros distúrbios hepáticos contribuintes e restrita à gestação. Os fatores de risco incluem história prévia ou familiar de CIG, colelitíase e história de hepatite C.[49][50][51][52] As complicações maternas incluem aumento do risco de diabetes gestacional e pré-eclâmpsia, além de intolerância à glicose e dislipidemia; as complicações fetais incluem nascimento pré-termo, líquido amniótico tinto de mecônio, internação na unidade neonatal e, em gestantes com concentrações de ácido biliar ≥100 micromoles/L, óbito fetal intrauterino (natimorto).[53]

Um distúrbio da gravidez associado a um novo episódio de hipertensão (definida como pressão arterial sistólica ≥140 mmHg e/ou pressão arterial diastólica ≥90 mmHg), que geralmente ocorre após 20 semanas de gestação e, com frequência, próximo ao termo. Embora costumem vir acompanhados de um novo episódio de proteinúria, a hipertensão e outros sinais e sintomas de pré-eclâmpsia podem aparecer em algumas mulheres sem a presença de proteinúria.[54] A mulher pode ser assintomática e diagnosticada em uma consulta clínica de rotina, ou ela pode apresentar agudamente cefaleia, dor na parte superior do abdome, distúrbios visuais, dispneia, convulsões e oligúria.

Uma forma grave de pré-eclâmpsia caracterizada por hemólise, enzimas hepáticas elevadas (EHE) e plaquetopenia em mulher gestante ou puérpera (geralmente dentro de 7 dias após o parto). O diagnóstico da síndrome HELLP deve ser considerado em qualquer gestante que apresente um novo episódio significativo de dor epigástrica/no quadrante superior direito durante a segunda metade da gestação ou imediatamente após o parto, até que se prove o contrário. Associada à deterioração fetal e materna progressiva e muitas vezes rápida.

Separação da placenta com localização normal antes do parto do feto. Pode ser oculta ou evidente.[55] Associada com o aumento da mortalidade e da morbidade perinatais. É também uma causa significativa de morbidade materna. Os fatores de risco incluem tabagismo, trauma, distúrbios hipertensivos e uso de cocaína.

O nascimento pré-termo ocorre entre a 24ª e a 37ª semana de gestação. Em dois terços dos casos, ele ocorre após o início espontâneo do trabalho de parto. Apenas uma minoria das mulheres que apresentam contrações pré-termo, conhecidas como ameaça de parto pré-termo (APPT), evolui realmente para o trabalho de parto e o parto. O restante dos nascimentos pré-termo decorre de parto iatrogênico, cujas causas mais comuns são a pré-eclâmpsia e a restrição do crescimento intrauterino.

A apresentação de nádegas na gestação ocorre quando um bebê se apresenta primeiro com as nádegas ou pés em vez da cabeça (apresentação cefálica) e é associada a morbidade e mortalidade aumentadas tanto para a mãe quanto para o bebê. Ela é mais comum na gestação precoce e diminui com o avançar da idade gestacional, uma vez que a maioria dos bebês se viram espontaneamente para uma apresentação cefálica antes do nascimento.[56][57]

A incompatibilidade de Rh é uma condição em que uma mãe Rh negativa gestando um feto Rh positivo pode produzir anticorpos contra antígenos Rh de derivação paterna nos eritrócitos do feto. Esses anticorpos podem atravessar a placenta e destruir eritrócitos fetais. Essa é uma das principais causas de doença hemolítica no feto e em neonatos, também conhecida como eritroblastose fetal.

Além da imediata ressuscitação pós-nascimento, esforços para reduzir exposição excessiva ao oxigênio, hiperventilação, hipotermia e hipoglicemia devem ser feitos.[58] Recomenda-se consultar um neonatologista o mais rápido possível para reduzir a potencial morbidade.

O desenvolvimento de uma doença depressiva após o parto pode fazer parte de uma doença bipolar ou, mais comumente, unipolar.[59] A depressão pós-parto não é reconhecida pelos sistemas de classificação atuais como uma doença em si, mas o início de um episódio depressivo em até 4 semanas do pós-parto pode ser registrado pelo especificador de início periparto no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, quinta edição, texto revisado (DSM-5-TR).[60] Há evidências sugerindo que o especificador do DSM-5-TR é estrito demais.[61] Assim, no sentido geral, episódios depressivos que ocorrem de 6 a 12 meses após o parto podem ser considerados depressão pós-parto. Fatores de risco fortes incluem história de depressão, eventos de vida estressantes, apoio social insuficiente e privação do sono.

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