Visão geral das complicações da gestação

Última revisão: 23 Jun 2024
Última atualização: 30 Jan 2024

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Introdução

CondiçãoDescrição

Cuidados pré-natais de rotina

Os cuidados pré-natais são um componente importante de uma gestação saudável. Cuidados pré-natais regulares ajudam a identificar e tratar complicações e a promover comportamentos saudáveis.

Náuseas e vômitos da gravidez

As náuseas e vômitos da gravidez, comumente conhecidos como enjoo matinal, manifestam-se tipicamente entre a quarta e a oitava semanas após o último período menstrual. Elas se caracterizam por náuseas e vômitos que ocorrem com mais frequência pela manhã e tipicamente remitem completamente no segundo trimestre. As náuseas e vômitos na gravidez ocorrem em até 50% a 80% das gestantes.[1]​ A hiperêmese gravídica é a forma mais grave de náusea e vômitos da gravidez, e caracteriza-se por vômitos persistentes, depleção de volume, cetose, distúrbios eletrolíticos e perda de peso.

Deficiência de folato

Gestantes e lactantes apresentam um aumento na demanda de folato, o que pode resultar em deficiência de folato. A deficiência de folato durante a gestação está fortemente associada a defeitos do tubo neural fetal, 70% dos quais podem ser evitados ao aumentar a suplementação com ácido fólico.[2][3][4]​ A investigação sintomática deve abranger os sintomas associados à anemia, incluindo fadiga, palpitações, dispneia, tontura, cefaleias, icterícia, perda de apetite e perda de peso.

Anemia ferropriva

Nas gestantes, define-se a anemia ferropriva como hemoglobina <11 g/dL (110 g/L).[5] Os sintomas incluem fadiga, baixos níveis de energia e dispneia ao esforço. A gravidez aumenta a demanda de ferro com uma perda líquida de aproximadamente 580 mg de ferro durante o período de gestação, com a maior perda ocorrendo no terceiro trimestre.[6][7] A deficiência de ferro durante os primeiros 2 trimestres está associada a um aumento dos partos prematuros e bebês com baixo peso ao nascer.[8]

Aborto espontâneo

Definido como uma perda involuntária e espontânea da gestação antes de completadas 20-24 semanas (a gestação varia de acordo com o país).[9] Está associado a um sangramento vaginal não provocado, com ou sem dor suprapúbica. O aborto espontâneo ocorre em até um terço das gestações.[10][11][12][13][14]​ Os fatores de risco essenciais incluem idade materna avançada, malformação uterina, vaginose bacteriana e trombofilias. Dosagens seriadas da beta-hCG sérica e uma ultrassonografia transvaginal ajudam no diagnóstico.

Avaliação do aborto recorrente

Mais da metade das mulheres com abortamento habitual apresentam abortamento habitual inexplicado ou idiopático, em que nenhuma causa ou associação pode ser identificada.[15][16] A idade materna avançada e o número de abortos espontâneos prévios aumentam o risco de abortos espontâneos futuros. As associações definitivas de abortamento habitual incluem anomalias cromossômicas, síndrome antifosfolipídica, certas anomalias uterinas estruturais como incompetência cervical e algumas trombofilias.

Gravidez ectópica

Um óvulo fertilizado que se implanta e amadurece fora da cavidade endometrial uterina, sendo o local mais comum as tubas uterinas (97%), seguido pelo ovário (3.2%) e pelo abdome (1.3%).[17] Os sinais e sintomas clássicos são dor, sangramento vaginal e amenorreia.[18] As taxas mundiais de gravidez ectópica são de 1.1% no Reino Unido, 1.23% nos EUA, 1.49% na Noruega e 1.62% na Austrália.[19][20][21][22] Os sinais de alerta que sugerem uma possível ruptura incluem sinais vitais instáveis (trocas ortostáticas), sangue na cúpula vaginal ou sinais de sangramento intraperitoneal (por exemplo, abdome agudo, dor no ombro, dor à mobilização do colo). O risco aumenta com gravidezes ectópicas prévias, cirurgia tubária, história de infecções sexualmente transmissíveis, tabagismo, fertilização in vitro ou se houver gravidez apesar do uso de um dispositivo intrauterino.

Placenta prévia

Classificada como placenta prévia se a placenta estiver cobrindo diretamente o óstio cervical, ou como placenta baixa, se a borda placentária estiver a <2 cm do óstio cervical. Ela ocorre em 0.3% a 0.5% das gestações no mundo inteiro.[23][24][25] A placenta prévia sintomática geralmente se apresenta como um sangramento vaginal indolor no segundo ou terceiro trimestre.[26][27][28] Os fatores de risco incluem cicatrização uterina prévia (mais comumente em decorrência de um parto cesáreo prévio), idade materna avançada, tabagismo, gestações múltiplas prévias/intervalo curto entre gestações ou abortos espontâneos/induzidos, placenta prévia anterior, tratamento para infertilidade e uso de substâncias ilícitas. 

Gravidez molar

As molas hidatiformes são gestações cromossomicamente anormais que têm o potencial de se tornarem malignas (neoplasia trofoblástica gestacional). A doença trofoblástica gestacional (DTG) abrange tumores de tecidos fetais, incluindo as molas hidatiformes, que brotam de trofoblastos placentários. O sintoma de apresentação mais comum é o sangramento vaginal, presente nas pacientes caracteristicamente no primeiro trimestre. As mulheres com gravidez molar estão comumente nos extremos da vida reprodutiva (idade inferior a 20 anos ou superior a 35 anos) e podem relatar uma história de DTG anterior.[29][30]

Avaliação de dor abdominal na gestação

As causas da dor abdominal no início da gestação incluem gravidez ectópica, aborto espontâneo e síndrome de hiperestimulação ovariana. As causas no final da gestação incluem trabalho de parto prematuro, corioamnionite, ruptura uterina, descolamento da placenta, síndrome HELLP e esteatose hepática aguda da gravidez. Entre as causas ginecológicas estão as massas anexiais e os miomas. As outras etiologias podem ser urológicas (por exemplo, infecções do trato urinário [ITUs], pielonefrite aguda, nefrolitíase e hidronefrose), gastrointestinais (por exemplo, apendicite, colecistite, pancreatite e obstrução intestinal), etiologias relacionadas a traumas, e musculoesqueléticas.

Hipertensão gestacional

Definida por uma pressão arterial ≥140/90 mmHg em duas ocasiões (com um intervalo de, pelo menos, 4 horas) durante a gravidez após as 20 semanas de gestação em uma mulher previamente normotensa, sem a presença de proteinúria (<300 mg/24 horas) ou outra característica clínica indicativa de pré-eclâmpsia (trombocitopenia, comprometimento da função hepática ou renal, edema pulmonar, novo episódio de cefaleia).[31][32] A hipertensão é o problema de saúde mais frequentemente identificado durante a gestação. As mulheres com hipertensão gestacional geralmente são assintomáticas. Os fatores de risco incluem nuligestação, etnia negra ou hispânica, gestações múltiplas, obesidade e mães que nasceram pequenas para a idade gestacional. A hipertensão gestacional aumenta o risco de macrossomia, restrição do crescimento intrauterino, natimorto, parto cesáreo e internação do neonato em unidade de terapia intensiva. A coexistência de diabetes mellitus gestacional aumenta ainda mais o risco.[33]

Diabetes mellitus gestacional

Hiperglicemia na gravidez que está abaixo dos limiares diagnósticos para diabetes mellitus.[34][35] Desenvolve-se durante a gestação e é geralmente diagnosticada após uma avaliação dos fatores de risco seguida por níveis elevados de glicose plasmática em testes de tolerância à glicose. Estima-se que, em 2021, 16.7% das gestações no mundo todo que resultaram em nascidos vivos foram afetadas por alguma forma de hiperglicemia.[36] Os fatores de risco incluem idade materna avançada (>40 anos), diabetes mellitus gestacional prévio, bebê macrossômico prévio, IMC elevado, síndrome do ovário policístico, ascendência não branca, história familiar de diabetes mellitus do tipo 2, sedentarismo e diabetes mellitus gestacional prévio.[37][38][39][40][41][42][43][44][45]

A gestação também pode ser complicada por diabetes mellitus do tipo 1 ou 2 estabelecidos.

Infecções do trato urinário em mulheres

Uma infecção dos rins, bexiga ou uretra. As ITUs na gravidez são consideradas ITUs complicadas. A incidência de ITUs ao longo da vida é de 50% a 60% nas mulheres adultas. As gestantes devem ser rastreadas para bacteriúria assintomática, uma vez que esta tem sido associada a taxas mais elevadas de pielonefrite, parto prematuro e mortalidade fetal.[1]

Vaginite

Inflamação da vagina decorrente de mudanças na composição do microambiente vaginal, causada por infecção, fatores irritantes ou insuficiência hormonal (por exemplo, vaginite atrófica). A vaginose bacteriana continua a ser uma das principais causas de vaginite; as outras causas infecciosas comuns incluem a tricomoníase e a candidíase. A vaginite é o diagnóstico ginecológico mais comum no cenário da atenção primária.[46]​ Os sintomas comuns incluem corrimento, prurido e dispareunia. A vaginose bacteriana e a tricomoníase têm sido associadas a parto prematuro, baixo peso ao nascer e ruptura prematura de membranas.[47][48]

Listeriose

Uma infecção transmitida por alimentos causada por um bacilo móvel, Gram-positivo e não formador de esporos. As gestantes são orientadas a evitarem legumes e verduras crus e não lavados, carne crua ou malcozida (frango, carne de vaca, carne de porco), alimentos armazenados em geladeira por muito tempo, queijos frescos, leite não pasteurizado ou seus derivados.[49][50][51][52] O patógeno tem predileção por neonatos (<1 mês de idade), adultos (sobretudo >50 anos), gestantes (30% de todos os pacientes) e pessoas imunocomprometidas (com vírus da imunodeficiência humana [HIV]/síndrome de imunodeficiência adquirida [AIDS], câncer, neoplasias hematológicas, pessoas submetidas a tratamento com corticosteroides ou receptores de transplantes).[49][53][54] As gestantes podem ter sintomas tipo gripe (letargia, febre, artralgias, mialgias, calafrios, fadiga, diarreia, vômitos e dor abdominal).[50]

Toxoplasmose

Trata-se de uma doença parasitária causada pelo protozoário Toxoplasma gondii. Ela se propaga por meio de alimentos ou água contaminada com oócitos, carne infectada ou contato com oócitos em fezes de felinos. A transmissão pela placenta ocorre apenas quando as pacientes soronegativas contraem a toxoplasmose durante a gestação. A infecção primária durante a gestação é frequentemente assintomática na mãe, mas pode resultar em morte fetal e anormalidades congênitas graves (por exemplo, deficiência intelectual e cegueira). Pesquisas nacionais na França demonstraram uma diminuição da soroprevalência de T gondii entre gestantes, com modelos estimando uma diminuição na prevalência de 76% em 1980 para 27% em 2020.[55]​ As infecções fetais no terceiro trimestre são muitas vezes assintomáticas ao nascimento, mas a maioria dessas crianças congenitamente infectadas (até 85%) desenvolve retinite, problemas no sistema nervoso central (por exemplo, deficiências de aprendizagem ou convulsões) ou atraso no crescimento meses ou anos mais tarde.[56] Em alguns países (por exemplo, França), recomenda-se a realização do rastreamento pré-natal de rotina para T gondii.

Infecção por citomegalovírus

O citomegalovírus (CMV) é um beta-herpes-vírus onipresente que infecta a maioria dos seres humanos e estabelece um estado de latência vitalício nas células do hospedeiro. As reativações subclínicas periódicas são controladas por um sistema imunológico ativo. Fetos imunologicamente vulneráveis apresentam risco de doença congênita por CMV e de suas complicações, como perda auditiva e deficit neurológico. É a causa infecciosa congênita mais comum de perda auditiva neurossensorial e deficiência intelectual.[57]​ As mães gestantes devem lavar as mãos regular e cuidadosamente para evitar uma infecção primária (a qual geralmente é assintomática). 

Rubéola

A infecção materna na gravidez, particularmente no início da gestação, pode causar aborto espontâneo, morte fetal ou um amplo espectro de anomalias anatômicas e laboratoriais (síndrome da rubéola congênita). Na região europeia da Organização Mundial da Saúde, a incidência da rubéola diminuiu de 234.9 casos por milhão de habitantes, em 2005, para 0.7 caso por milhão, em 2019.[58]​ A consulta a um especialista é altamente recomendada para as gestantes expostas à rubéola. 

Vírus da Zika

Quando sintomática (cerca de 20% das infecções), trata-se de uma infecção leve, geralmente autolimitada, causada pelo vírus da Zika. Os achados clínicos característicos incluem febre, exantema maculopapular pruriginoso (às vezes, morbiliforme), artralgia e conjuntivite não purulenta.[59] Não foram descritas diferenças no quadro clínico entre pacientes gestantes e não gestantes. Dados do Zika Pregnancy and Infant Registry dos EUA revelaram que entre as gestações com infecção confirmada, a frequência de qualquer malformação congênita associada ao Zika foi maior entre aquelas com infecções no primeiro (8%) e segundo (6%) trimestres em comparação com infecções no terceiro trimestre ( 3.8%).[60]

A síndrome de Zika congênita é um padrão de anomalias congênitas (ou seja, microcefalia, calcificações intracranianas ou outras anomalias cerebrais, ou anomalias oculares, entre outras) em lactentes associadas à infecção do vírus da Zika durante a gestação.[61][62][63][64]

Infecção por vírus da imunodeficiência humana (HIV) na gestação

Recomenda-se que todas as gestantes façam o teste para infecção por HIV o mais cedo possível na gestação.[65] Todas as gestantes com HIV devem receber terapia antirretroviral (TAR), tão logo quanto possível na gestação, independentemente da contagem de CD4 ou da carga viral. Aproximadamente 1.3 milhão (faixa de 1 a 1.6 milhão) de mulheres com HIV no mundo todo estavam grávidas em 2021; estima-se que 81% receberam TAR.[66]​ Sem tratamento, o risco de transmissão perinatal do HIV varia entre 15% e 45%, mas pode ser reduzido para 1% ou menos por meio de uma combinação de medidas preventivas que includem TAR para as mães e profilaxia para os neonatos.[67]

Infecção por estreptococos do grupo B

Estreptococos do grupo B (EGB), também conhecidos como Streptococcus agalactiae, são bactérias gram-positivas que colonizam normalmente o trato gastrintestinal, períneo e vagina.[68]​ Elas podem causar infecções invasivas em qualquer idade, mas são mais comuns no período neonatal, nos idosos e em adultos com fatores predisponentes (isto é, gestação, diabetes mellitus e imunocomprometidos).[68]​ Aproximadamente 10% a 30% das gestantes são colonizadas com GBS no reto ou na vagina; na ausência de intervenção, aproximadamente 1% a 2% dos bebês nascidos de mães colonizadas desenvolverá infecção por GBS precoce.[69]​ Os GBS podem produzir uma ampla variedade de manifestações nas gestantes, incluindo ITU, corioamnionite, sepse, endometrite pós-parto e infecção da ferida operatória pós-parto.

Colestase intra-hepática gestacional

A colestase intra-hepática gestacional (CIG) é um distúrbio caracterizado por prurido materno (coceira) e disfunção hepática, na ausência de outros distúrbios hepáticos contribuintes e restrita à gestação. Os fatores de risco incluem história prévia ou familiar de CIG, colelitíase e história de hepatite C.[70][71][72][73]​ A condição provavelmente ocorre por interação dos hormônios reprodutivos com fatores ambientais em indivíduas geneticamente suscetíveis. As complicações maternas incluem aumento do risco de diabetes mellitus gestacional e pré-eclâmpsia, além de intolerância à glicose e dislipidemia; as complicações fetais incluem nascimento pré-termo, líquido amniótico tinto de mecônio, internação na unidade neonatal e, nas gestantes com concentrações de ácido biliar ≥100 micromoles/L, óbito fetal intrauterino (natimorto).[74]

Pré-eclâmpsia

Um distúrbio da gravidez associado a um novo episódio de hipertensão (definida como pressão arterial sistólica ≥140 mmHg e/ou pressão arterial diastólica ≥90 mmHg), que geralmente ocorre após 20 semanas de gestação e, com frequência, próximo ao termo. Embora costumem vir acompanhados de um novo episódio de proteinúria, a hipertensão e outros sinais e sintomas de pré-eclâmpsia podem aparecer em algumas mulheres sem a presença de proteinúria.[75] Embora a incidência exata seja desconhecida, há relatos que a pré-eclâmpsia ocorre em aproximadamente 4% de todas as gestações nos EUA.[76]​ Quando os números incluem as mulheres que desenvolvem pré-eclâmpsia pós-parto, a incidência fica entre 2% e 8% de todas as gestações no mundo.[77]​ A mulher pode estar assintomática e diagnosticada em uma consulta clínica de rotina, ou ela pode se apresentar agudamente com cefaleia, dor na parte superior do abdome, distúrbios visuais, dispneia, convulsões e oligúria.

Síndrome HELLP (hemólise, enzimas hepáticas elevadas e plaquetopenia)

Uma forma grave de pré-eclâmpsia caracterizada por hemólise, enzimas hepáticas elevadas (EHE) e plaquetopenia em mulher gestante ou puérpera (geralmente dentro de 7 dias após o parto). A síndrome HELLP (hemólise, enzimas hepáticas elevadas e plaquetopenia) ocorre em aproximadamente 1 a 8 a cada 1000 gestações.[78]​ O diagnóstico da síndrome HELLP deve ser considerado em qualquer gestante que apresentar um novo episódio significativo de dor epigástrica/no quadrante superior direito do abdome durante a segunda metade da gestação ou imediatamente após o parto, até que se prove o contrário. Associada à deterioração fetal e materna progressiva e muitas vezes rápida.

Descolamento da placenta

Separação prematura de uma placenta com localização normal antes do parto.[79]​ Pode ser oculta ou evidente.[79] Associada com o aumento da mortalidade e da morbidade perinatais. É também uma causa significativa de morbidade materna. O descolamento da placenta complica cerca de 0.3% a 1% dos nascimentos.[80][81] O descolamento da placenta pode resultar de um trauma abdominal direto, trauma indireto ou uso de cocaína. Os fatores de risco incluem tabagismo, trauma, distúrbios hipertensivos e uso de cocaína.

Trabalho de parto prematuro

O nascimento pré-termo ocorre entre a 24ª e a 37ª semanas de gestação. Em dois terços dos casos, ele ocorre após o início espontâneo do trabalho de parto. Somente 1% de todos os nascimentos ocorrem em gestações com menos de 32 semanas. A mortalidade e a morbidade grave são incomuns nas gestações com mais de 32 semanas, embora efeitos mais sutis em longo prazo, como problemas comportamentais durante a infância, ainda ocorram em gestações com duração mais longa. O parto prematuro apresenta uma etiologia multifatorial, e atualmente é considerado uma síndrome. Geralmente é possível classificar seus fatores causais em maternos ou fetais. Apenas uma minoria das mulheres que apresentam contrações pré-termo, conhecidas como ameaça de parto pré-termo, evolui realmente para o trabalho de parto e o parto. O restante dos nascimentos pré-termo decorre de parto iatrogênico, cujas causas mais comuns são a pré-eclâmpsia e a restrição do crescimento intrauterino.

Apresentação de nádegas

A apresentação de nádegas na gestação ocorre quando um bebê se apresenta primeiro com as nádegas ou pés em vez da cabeça (apresentação cefálica) e é associada a morbidade e mortalidade aumentadas tanto para a mãe quanto para o bebê.[82][83] Ela é mais comum na gestação precoce e diminui com o avançar da idade gestacional, uma vez que a maioria dos bebês se viram espontaneamente para uma apresentação cefálica antes do nascimento.[84][85]​ Os fatores que predispõem as gestações à apresentação de nádegas incluem parto prematuro, feto pequeno para a idade gestacional, primiparidade, anomalias congênitas no feto, volume anormal de líquido amniótico, anomalias placentárias e uterinas e parto pélvico prévio.[86][87][88][89][90]

Incompatibilidade de Rh

A incompatibilidade de Rh é uma condição em que uma mãe Rh negativa gestando um feto Rh positivo pode produzir anticorpos contra antígenos Rh de derivação paterna nos eritrócitos do feto. Esses anticorpos podem atravessar a placenta e destruir eritrócitos fetais. A prevalência global estimada da doença hemolítica relacionada ao Rh é de 276/100,000 nascidos vivos; em países com assistência perinatal-neonatal bem estabelecida, a prevalência é de aproximadamente 2.5/100,000 nascidos vivos.[91]​ Ela é uma das principais causas de doença hemolítica do feto e do neonato, também conhecida como eritroblastose fetal, a qual envolve anemia fetal progressiva e, se não tratada, pode levar à hidropisia fetal e à morte.[92][93]

Cuidados com o neonato prematuro

Uma criança nascida antes de 37 semanas completas de gestação. Além da imediata ressuscitação pós-nascimento, esforços para reduzir exposição excessiva ao oxigênio, hiperventilação, hipotermia e hipoglicemia devem ser feitos. A prematuridade é comum, representando 10.6% dos nascidos vivos em todo o mundo.[94]​ Recomenda-se consultar um neonatologista tão logo quanto possível para reduzir a potencial morbidade.

Depressão pós-parto

O desenvolvimento de uma doença depressiva após o parto pode fazer parte de uma doença bipolar ou, mais comumente, unipolar.[95] A depressão pós-parto não é reconhecida pelos sistemas de classificação atuais como uma doença em si, mas o início de um episódio depressivo em até 4 semanas do pós-parto pode ser registrado pelo especificador de início periparto no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, quinta edição, texto revisado (DSM-5-TR).[96] Há evidências sugerindo que o especificador do DSM-5-TR é estrito demais.[97] Assim, no sentido geral, episódios depressivos que ocorrem de 6 a 12 meses após o parto podem ser considerados depressão pós-parto. Estudos relatam uma grande variação - de 0% a 60% - na prevalência da depressão pós-parto em todo o mundo.[98]​ Os fatores de risco fortes incluem história de depressão ou ansiedade, eventos cotidianos estressantes recentes, violência e abuso, suporte social deficiente, bebês prematuros e com baixo peso ao nascer e descontinuação de tratamentos psicofarmacológicos.[99][100]

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Autores

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