Avaliação de dor abdominal na gestação

A dor abdominal na gravidez é comum. Muitas alterações adaptativas ou fisiológicas da gestação afetam a apresentação. As mulheres costumam se consultar com os médicos mais frequentemente, pois estão preocupadas com a saúde do feto. As pacientes precisam de uma avaliação cuidadosa para reduzir a ansiedade e oferecer segurança. Um especialista deve ser consultado, caso o quadro clínico seja indefinido.[1]Chamberlain G. ABC of antenatal care: abdominal pain in pregnancy. BMJ. 1991 Jun 8;302(6789):1390-4. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1670063 http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2059722?tool=bestpractice.com [2]Augustin G, Majerovic M. Non-obstetrical acute abdomen during pregnancy. Eur J Obstet Gynecol Rep Biol. 2007 Mar;131(1):4-12. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16982130?tool=bestpractice.com

Desafios e armadilhas do diagnóstico

As alterações fisiológicas e anatômicas de vários órgãos durante a evolução da gestação resultam em desafios diagnósticos importantes para o médico. Os órgãos reprodutivos compartilham as mesmas inervações viscerais como o íleo inferior, o cólon sigmoide e o reto. Portanto, frequentemente é difícil diferenciar entre dor de origem ginecológica e gastrointestinal. A dor pode ser provocada não apenas por causas específicas à gestação ou por condições ginecológicas, mas por muitas outras doenças cujos sintomas e sinais podem estar bastante alterados devido à gestação. Isso é especialmente verdadeiro a partir do final do segundo trimestre.

A avaliação é baseada em 2 pacientes: a mãe e o feto. Os possíveis efeitos adversos da anestesia, os medicamentos e a radiação no feto frequentemente complicam a abordagem diagnóstica tradicional. Como resultado, a presença do feto pode levar a um atraso na intervenção ou nos testes diagnósticos invasivos. Além do mais, há uma relutância geral em operar desnecessariamente uma gestante.

O abdome agudo na gestação permanece um dilema diagnóstico. À medida que a gestação expande a parede abdominal anterior, os sinais peritoneais resultantes são frequentemente diferentes dos esperados em pacientes não gestantes, devido à falta de contato com a inflamação subjacente. Além disso, o quadro clínico pode estar distorcido pelo útero obstruindo o movimento do omento para a área de inflamação.[3]Sivanesaratnam V. The acute abdomen and the obstetrician. Bailleres Best Pract Res Clin Obstet Gynaecol. 2000 Feb;14(1):89-102. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10789262?tool=bestpractice.com Os parâmetros laboratoriais podem ser inespecíficos e estão frequentemente alterados por causa das alterações fisiológicas na gestação.

Apesar dos avanços na tecnologia médica, o diagnóstico pré-operatório das condições abdominais agudas ainda pode ser impreciso, aumentando a taxa de laparotomia exploratória, parto cesáreo, parto prematuro e morte perinatal.