Abortamento habitual é definido como 2 ou mais gestações clínicas malsucedidas (isto é, documentada por ultrassonografia ou histopatologia).[1]Practice Committee of American Society for Reproductive Medicine. Definitions of infertility and recurrent pregnancy loss: a committee opinion. Fertil Steril. 2013 Jan;99(1):63.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23095139?tool=bestpractice.com
Afeta cerca de 1% de todos os casais férteis que tentam conceber um filho, em comparação com abortos espontâneos esporádicos e não consecutivos, que ocorrem em cerca de 15% a 20% de todas as gestações.[2]Stirrat GM. Recurrent miscarriage. Lancet. 1990 Sep 15;336(8716):673-5.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/1975862?tool=bestpractice.com
Um aborto espontâneo inclui qualquer gestação que termina antes da idade de viabilidade que, atualmente, corresponde a 24 semanas de gestação. Abortos espontâneos que ocorrem antes de 12 semanas de gestação costumam ser chamados de abortos espontâneos precoces ou no primeiro trimestre, e aqueles que ocorrem entre 13 e 24 semanas de gestação são conhecidos como abortos espontâneos tardios ou no segundo trimestre.
A avaliação pode ser iniciada depois de 2 ou 3 abortos espontâneos consecutivos, pois a prevalência das causas é semelhante nas mulheres com 2, 3 ou mais abortos espontâneos.[3]Habayeb OM, Konje JC. The one-stop recurrent miscarriage clinic: an evaluation of its effectiveness and outcome. Hum Reprod. 2004 Dec;19(12):2952-8.
https://humrep.oxfordjournals.org/cgi/content/full/19/12/2952
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15388685?tool=bestpractice.com
Apesar da ampla gama de investigações, nenhuma causa aparente foi encontrada em mais de 50% dos casos de abortamento habitual.[4]Quenby SM, Farquharson RG. Predicting recurring miscarriage: what is important? Obstet Gynecol. 1993 Jul;82(1):132-8.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/8515913?tool=bestpractice.com
Apesar disso, cerca de 70% das pacientes cuja causa do aborto não foi encontrada conseguirão dar à luz na próxima gestação, dependendo da idade da mulher e do número de abortos espontâneos prévios.[3]Habayeb OM, Konje JC. The one-stop recurrent miscarriage clinic: an evaluation of its effectiveness and outcome. Hum Reprod. 2004 Dec;19(12):2952-8.
https://humrep.oxfordjournals.org/cgi/content/full/19/12/2952
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15388685?tool=bestpractice.com
[4]Quenby SM, Farquharson RG. Predicting recurring miscarriage: what is important? Obstet Gynecol. 1993 Jul;82(1):132-8.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/8515913?tool=bestpractice.com
[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Taxa percentual de êxito predita da gestação subsequente de acordo com a idade e a história de aborto espontâneo prévioCriado por BMJ Group; dados de Brigham SA, et al. Hum Reprod. 1999;14:2868-2871 [Citation ends].
Associações definitivas de abortamento habitual incluem anomalias cromossômicas, síndrome antifosfolipídica, certas anomalias uterinas estruturais como incompetência cervical e algumas trombofilias. No entanto, não se comprovou absolutamente uma redução no risco de aborto espontâneo em uma gestação subsequente após tratamento para a maioria dessas afecções. Também existem controvérsias sobre a possível associação de outras afecções com abortamento habitual, incluindo fatores imunológicos, outras anomalias uterinas (por exemplo, útero bicorno ou septado) e fatores endócrinos. Há uma necessidade de pesquisas de alta qualidade e metodologicamente sólidas para orientar o tratamento dessas pacientes.
Fatores de risco
O aumento da idade materna diminui a chance de um nascimento bem-sucedido. Mulheres de 20 anos com 2 abortos espontâneos prévios têm 92% de chance de êxito na próxima gestação em comparação com apenas 60% de chance de êxito em mulheres de 45 anos.[5]Brigham SA, Conlon C, Farquharson RG. A longitudinal study of pregnancy outcome following idiopathic recurrent miscarriage. Hum Reprod. 1999 Nov;14(11):2868-71.
https://humrep.oxfordjournals.org/cgi/content/full/14/11/2868
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10548638?tool=bestpractice.com
A idade paterna também influencia o êxito de uma gestação. A frequência de anomalias cromossômicas no esperma parece aumentar com a idade. Independentemente da idade materna, a idade paterna superior a 40 anos implica 1:6 de chance de aborto espontâneo em comparação com a idade paterna de 25 a 29 anos.[6]Kleinhaus K, Perrin M, Friedlander Y, et al. Paternal age and spontaneous abortion. Obstet Gynecol. 2006 Aug;108(2):369-77.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16880308?tool=bestpractice.com
Os casais mais velhos têm as piores taxas de gestação e o pior desfecho.[3]Habayeb OM, Konje JC. The one-stop recurrent miscarriage clinic: an evaluation of its effectiveness and outcome. Hum Reprod. 2004 Dec;19(12):2952-8.
https://humrep.oxfordjournals.org/cgi/content/full/19/12/2952
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15388685?tool=bestpractice.com
Primigestas e pacientes que costumam apresentar gestações bem-sucedidas correm apenas 5% de risco de aborto espontâneo, em comparação com 24% em pacientes que já sofreram aborto.[7]Regan L, Braude PR, Trembath PL. Influence of past reproductive performance on risk of spontaneous abortion. BMJ. 1989 Aug 26;299(6698):541-5.
https://www.pubmedcentral.nih.gov/articlerender.fcgi?tool=pubmed&pubmedid=2507063
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2507063?tool=bestpractice.com
Outros estudos também mostram a tendência de aumento da taxa de aborto espontâneo com o número de abortos espontâneos prévios.[5]Brigham SA, Conlon C, Farquharson RG. A longitudinal study of pregnancy outcome following idiopathic recurrent miscarriage. Hum Reprod. 1999 Nov;14(11):2868-71.
https://humrep.oxfordjournals.org/cgi/content/full/14/11/2868
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10548638?tool=bestpractice.com
[8]Ogasawara M, Aoki K, Okada S, et al. Embryonic karyotype of abortuses in relation to the number of previous miscarriages. Fertil Steril. 2000 Feb;73(2):300-4.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10685533?tool=bestpractice.com
Desse modo, o risco de aborto espontâneo está diretamente relacionado ao desfecho de gestações anteriores.
Abortamento habitual é uma condição estressante e, assim, além de investigações clínicas e tratamento apropriado, é necessário fornecer informações, aconselhamento e suporte à paciente.