Prevenção primária
As medidas preventivas a seguir são recomendadas para as pessoas que vivem em uma área afetada por um surto ou para lá viajam.[1]
Evitar contato com o corpo e fluidos corporais de pessoas enfermas
Evitar contato com o sêmen de alguém que tiver se recuperado de doença do Ebola até que exames confirmem que o vírus não está mais presente
Evitar contato com roupas, roupa de cama, equipamentos médicos ou outros itens que possam ter tocado fluidos corporais de uma pessoa infectada
Evitar contato com o corpo de alguém com suspeita ou confirmação de ser portador da doença do Ebola (por exemplo, durante um funeral ou enterro)
Evitar contato com morcegos, antílopes da floresta primatas, e sangue, fluidos ou carne crua desses animais (ou de outros animais desconhecidos)
Usar equipamentos de proteção quando estiver em contato com pessoas enfermas ou que tiverem morrido por causa de doença do Ebola, seus fluidos corporais ou objetos cobertos com seus fluidos corporais
Monitorar a saúde por 21 dias depois de retornar de uma área com surto em andamento e procurar atendimento médico imediato se sintomas se desenvolverem.
Se houver suspeita de infecção com base no rastreamento inicial, será necessário o isolamento imediato antes de realizar investigação adicional. Isso é crucial para reduzir o contato com outros pacientes e profissionais da saúde enquanto o paciente é investigado. As medidas de isolamento devem ser continuadas até que o paciente apresente resultado de teste negativo.[79]
O maior fator de risco dos profissionais da saúde ao cuidar de pacientes infectados é tocar inadvertidamente a própria face ou o pescoço sob o protetor de face durante o cuidado dos pacientes e retirar o equipamento de proteção individual (EPI). Os profissionais da saúde devem entender os seguintes princípios básicos do uso do EPI:[79]
Colocação da vestimenta: o EPI deve ser vestido corretamente, na ordem adequada, antes da entrada na área de tratamento de pacientes. Como o EPI não pode ser alterado uma vez dentro da área de cuidado do paciente, devem ser tomadas precauções para garantir que o equipamento tenha sido colocado da forma mais confortável possível antes de entrar na área. Nenhuma parte da pele deve ficar exposta. O ato de se vestir deve ser diretamente monitorado por um observador treinado, e uma avaliação final realizada antes de entrar na área de cuidado do paciente
Durante o tratamento de pacientes: o EPI deve permanecer no lugar e ser usado corretamente durante a exposição a áreas possivelmente contaminadas. O EPI não deve ser ajustado durante os cuidados com o paciente. Os profissionais da saúde devem realizar desinfecção frequente das mãos com utilização de luvas com produto de limpeza para as mãos à base de álcool ou solução de cloro, principalmente depois de manipular fluidos corporais. Se ocorrer um rompimento parcial ou total do EPI (por exemplo, luvas separadas das mangas deixando a pele exposta, um rasgo na luva externa, uma picada de agulha) durante os cuidados com o paciente, o profissional da saúde deverá ir imediatamente para a área de remoção e descarte da vestimenta para avaliar a exposição e implementar o plano de exposição da unidade, se indicado. É preciso que as instruções de ação imediata a serem adotadas em caso de exposição de alto risco (lesão provocada por agulha e respingo na membrana mucosa) sejam claras para todos os profissionais de saúde. Após a remoção e o descarte seguros da vestimenta, deve-se realizar uma rápida avaliação dos riscos e considerar a profilaxia pós-exposição (PPE).[80]
Remoção e descarte da vestimenta: a remoção do EPI usado é um processo de alto risco que requer um procedimento estruturado, um observador treinado e uma área designada para remoção, para garantir a proteção. O EPI deve ser retirado lenta e deliberadamente na sequência correta para reduzir a possibilidade de autocontaminação ou outra exposição. Um processo gradual deve ser desenvolvido e usado durante o treinamento e a prática diária.
A importância da supervisão por um "amigo" quando se estiver dentro da área de assistência aos pacientes e durante as atividades de colocar e tirar vestimentas, para garantir uma prática segura, não deve ser subestimada, juntamente com orientação de monitores independentes se disponíveis.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) elaboram orientações detalhadas sobre equipamento de proteção individual (EPI):
WHO: infection prevention and control guideline for Ebola and Marburg disease Opens in new window
CDC: guidance for personal protective equipment (PPE) Opens in new window
Vacinas
Ervebo®
Também conhecida como vacina rVSV-ZEBOV ou rVSV∆G-ZEBOV-GP. É uma vacina de vírus vivo atenuado que contém o vírus da estomatite vesicular modificado para conter uma proteína do Orthoebolavirus zairense.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) pré-qualificou a vacina, e vários países africanos a aprovaram para a prevenção da doença do Ebola causada pelo vírus Ebola (espécie Orthoebolavirus zairense). Ela é recomendada pelo Strategic Advisory Group of Experts on Immunization (SAGE) da OMS como parte de um conjunto mais amplo de ferramentas de resposta a surtos de Ebola.[81]
A Food and Drug Administration dos EUA e a European Medicines Agency aprovaram a vacina para a prevenção da doença do Ebola causada pela espécie Orthoebolavirus zairense em indivíduos em risco com idade ≥1 ano.
Nos EUA, o Advisory Committee on Immunization Practices dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças recomenda a vacinação pré-exposição a adultos ≥18 anos de idade com alto risco de potencial exposição ocupacional ao vírus Ebola porque respondem a um surto, trabalham como profissionais da saúde em um centro de tratamento para o Ebola designado federalmente nos EUA ou trabalham em laboratórios ou como outros membros de equipes em instalações de biossegurança de nível 4 nos EUA. Ela também é recomendada para profissionais da saúde envolvidos nos cuidados e transporte de pacientes com suspeita ou confirmação de doença do Ebola em centros de tratamento de patógenos especiais, e indivíduos que trabalham nas instalações da Rede de Resposta Laboratorial que manuseiam amostras que possam conter vírus Ebola (espécie Orthoebolavirus zairens) com potencial de replicação nos EUA.[82] Atualmente, a vacina não está disponível comercialmente nos EUA, mas se encontra em estoque no Strategic National Stockpile e é disponibilizada por meio dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças.[83]
A vacina é administrada em dose única por via intramuscular. As reações adversas comuns incluem reações no local da injeção, artralgia, mialgia, erupção cutânea, cefaleia, febre e fadiga.
Deve ser oferecida a vacina para gestantes e lactantes durante um surto ativo causado pelo vírus Ebola (espécie Orthoebolavirus zairense) em áreas afetadas, no contexto de uma pesquisa rigorosa ou de acordo com um protocolo de uso compassivo, com consentimento livre e esclarecido.[84]
O estudo Sierra Leone Trial to Introduce a Vaccine against Ebola (STRIVE), um ensaio clínico combinado de fases II e III que avalia a segurança e a eficácia da vacina, constatou que não houve relatos de casos de Ebola nos 7998 participantes que foram vacinados.[85] Realizou-se na Guiné um estudo aberto randomizado por agrupamento ("cluster") sobre vacinação em anel no qual os contatos de um caso suspeito de Ebola foram vacinados com uma única dose intramuscular da vacina. Os pacientes no grupo de tratamento receberam a vacina imediatamente, ao passo que a vacinação foi adiada em 21 dias no grupo de controle. O estudo revelou que a vacina teve alta eficácia protetiva. Nenhum paciente que recebeu a vacina desenvolveu a doença do Ebola 10 dias ou mais após a randomização no grupo de tratamento imediato; no entanto, ocorreram casos nos pacientes não vacinados do grupo de comparação.[86]
Zabdeno®/Mvabea®
Também conhecida como vacina Ad26.ZEBOV/MVA-BN-Filo.
Usa uma estratégia de reforço básico para aumentar a imunogenicidade e envolve o uso de dois vetores virais distintos que são administrados como doses diferentes. O componente Ad26.ZEBOV do esquema é uma vacina monovalente baseada no vetor adenovírus de sorotipo 26 (Ad26) que expressa a glicoproteína do vírus Ebola (espécie Orthoebolavirus zairense) e foi desenvolvida para fornecer imunidade ativa adquirida específica para o vírus Ebola (espécie Orthoebolavirus zairense). O componente MVA-BN-Filo do esquema é uma vacina multivalente baseada no vetor vaccinia Ankara (MVA) modificado que expressa glicoproteínas dos vírus Ebola, do Sudão e de Marburg e uma nucleoproteína do vírus de Tai Forest, e foi desenvolvida para fornecer imunidade a todos esses vírus.[87]
A European Medicines Agency aprovou a vacina para a prevenção da doença do Ebola causada pelo vírus Ebola (espécie Orthoebolavirus zairense) em crianças ≥1 ano de idade e adultos. A vacina foi autorizada em circunstâncias excepcionais, e não é adequada para resposta a surtos, quando é necessária proteção imediata. Essa vacina ainda não está aprovada nos EUA.
A vacina é administrada como um ciclo heterólogo com 2 doses, com um intervalo de 8 semanas. As reações adversas comuns incluem reações no local da injeção, artralgia, mialgia, cefaleia, febre e fadiga.
Não há dados sobre o uso da vacina durante a gestação; no entanto, a vacinação não deve ser protelada quando houver um risco claro de exposição.
Ensaios clínicos de fase 3 estão concluídos ou ainda não foram publicados, ou estão em andamento. Ensaios de fase 2 revelaram que a vacina foi bem tolerada e proporcionou altas respostas de anticorpos.[88][89]
Vacina ChAd3-ZEBOV
Um vetor adenovírus experimental derivado de chimpanzé com inserção de um gene de Orthoebolavirus, ainda em ensaios clínicos em fase inicial. Um estudo de fase II, randomizado e controlado por placebo constatou resposta de anticorpos à vacinação com a ChAd3-ZEBOV ou a rVSV-ZEBOV em 71% a 84% dos receptores da vacina ativa contra 3% dos receptores de placebo em 1 mês. As respostas foram mantidas, em grande parte, a 12 meses.[90]
Há outras vacinas em desenvolvimento.
Prevenção secundária
A doença do Ebola é uma doença de notificação compulsória.
Se houver suspeita de infecção, o paciente deve ser colocado em isolamento e todos os profissionais da saúde em contato com ele devem usar equipamento de proteção individual. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) fornecem orientações detalhadas sobre prevenção e controle de infecções em serviços de saúde:
WHO: infection prevention and control guideline for Ebola and Marburg disease Opens in new window
CDC: guidance for personal protective equipment (PPE) Opens in new window
O rastreamento dos contatos (por exemplo, família, amigos, colegas de trabalho) é essencial. As pessoas que tiverem sido expostas ao vírus nos 21 dias anteriores e que estiverem assintomáticas devem ser monitoradas durante o período de incubação para garantir o rápido reconhecimento dos sintomas, seguido por isolamento imediato. A OMS elaborou orientações sobre o rastreamento de contatos:
Profissionais da saúde com suspeita de infecção devem ser isolados e tratados da mesma forma que outros pacientes até que um diagnóstico negativo seja confirmado.[152] Em caso de exposição a fluidos corporais de um paciente com suspeita de infecção, a pessoa deverá lavar imediatamente as superfícies da pele afetadas com água e sabão, além de irrigar as membranas mucosas com grandes volumes de água.
Práticas de enterro seguras são essenciais, porém nem sempre culturalmente aceitas, e isso continua a ser um desafio.[76]
Profilaxia pós-exposição (PPE):
É um campo em rápida transformação.[206] Foi proposta uma estrutura útil que adota uma abordagem estratificada para risco de exposição.
A PPE é recomendado em pacientes de alto risco (por exemplo, pessoas em contato com a pele lesionada ou as membranas mucosas de um paciente infectado (vivo ou falecido) ou respectivos fluidos corporais, uma lesão por objetos pérfuro-penetrantes ou contato com roupas ou luvas contaminadas). Pode-se considerar também em pacientes com contato somente com a pele intacta de um paciente infectado (vivo ou falecido) ou respectivos fluidos corporais. Entre as opções a considerar estão: imunoterapia passiva com anticorpos monoclonais (por exemplo, ZMapp, MIL77), agentes antivirais (por exemplo, favipiravir, remdesivir, BCX4430) ou vacinação (por exemplo, rVSV-ZEBOV), dependendo das circunstâncias específicas do paciente.[207]
Além destas intervenções, é necessário apoio psicológico para os profissionais da saúde expostos a patógenos perigosos.[208]
O uso deste conteúdo está sujeito ao nosso aviso legal