O comprometimento intelectual pode ser generalizado (comprometimento cognitivo) ou específico a uma área (dificuldade de aprendizagem). Crianças com comprometimento cognitivo apresentam quociente de inteligência (QI) abaixo da média, <70.[1]Harris JC. Developmental neuropsychiatry, Volumes 1 and 2. Oxford, UK: Oxford University Press; 1998. O grau de comprometimento cognitivo depende do distúrbio subjacente e da sua gravidade. Um QI de 50 a 70 é classificado como comprometimento cognitivo leve. Em contrapartida, crianças com dificuldades de aprendizagem específicas apresentam dificuldades em determinadas tarefas mentais, mas QI normal. Exemplos incluem dificuldades na fala (distúrbio específico de linguagem), leitura e escrita (dislexia) e no uso de números (discalculia). Embora os termos "dificuldade de aprendizagem" e "comprometimento cognitivo" tenham definições específicas, médicos costumam utilizá-los de forma intercambiável.[1]Harris JC. Developmental neuropsychiatry, Volumes 1 and 2. Oxford, UK: Oxford University Press; 1998.
Epidemiologia
Aproximadamente 1% das crianças apresentam comprometimento cognitivo. Síndrome de Down e síndrome alcoólica fetal estão entre as causas identificadas mais comuns de comprometimento cognitivo.[2]Rasmussen C, Bisanz J. Executive functioning in children with fetal alcohol spectrum disorders: profiles and age-related differences. Child Neuropsychology. 2009;15:201-215.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18825524?tool=bestpractice.com
É mais difícil determinar a prevalência das dificuldades de aprendizagem dada a variação nos critérios de diagnóstico. A maior parte das estimativas sugere que a prevalência ao longo da vida das dificuldades de aprendizagem é de aproximadamente 10%; o sexo masculino tem maior probabilidade de ser acometido que o sexo feminino. Dislexia é a dificuldade de aprendizagem específica mais comum (acometendo cerca de 5% a 12% das crianças).[1]Harris JC. Developmental neuropsychiatry, Volumes 1 and 2. Oxford, UK: Oxford University Press; 1998.[3]Peterson RL, Pennington BF. Developmental dyslexia. Lancet. 2012;379:1997-2007.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3465717/
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22513218?tool=bestpractice.com
Em sua maioria, as condições associadas às dificuldades de aprendizagem específicas e ao comprometimento cognitivo generalizado são de origem relacionada ao desenvolvimento, estão associadas a anormalidades na estrutura e função cerebral e estão presentes desde o nascimento. O comprometimento cognitivo e as dificuldades de aprendizagem podem fazer parte de uma síndrome. Além disso, pode haver história familiar de dificuldades semelhantes. O comprometimento cognitivo generalizado geralmente está associado a uma história de atraso nas fases do desenvolvimento; a idade em que ele se torna aparente varia de acordo com a sua gravidade. Em algumas crianças, o comprometimento cognitivo leve generalizado torna-se mais aparente no início da vida escolar.
Abordagem por equipe multidisciplinar
Crianças que desenvolvem dificuldades de aprendizagem específicas novas, ou que tenham sido recém-identificadas como portadoras de comprometimento cognitivo, devem ser encaminhadas a um pediatra. Dificuldades adquiridas em razão de patologia intracraniana devem ser consideradas quando há início agudo ou regressão de habilidades previamente adquiridas. Entretanto, a presença de comprometimento cognitivo ou de dificuldades de aprendizagem específicas pode não ser tão nova, mas ser percebida apenas recentemente (por exemplo, no início da vida escolar).
Uma avaliação por equipe multidisciplinar é desejável para que se possa fazer um diagnóstico preciso e fornecer o devido aconselhamento em relação às intervenções apropriadas e ao posicionamento educacional. Uma avaliação por equipe multidisciplinar inclui pediatras ou psiquiatras infantis e profissionais interligados, como psicólogos e fonoaudiólogos. Crianças com dificuldades de coordenação motora (transtorno do desenvolvimento da coordenação ou dispraxia), resultantes em problemas físicos com a escrita, podem beneficiar-se da avaliação de um terapeuta ocupacional. A função do psicólogo clínico é identificar a habilidade cognitiva da criança (QI, ou nível de desenvolvimento equivalente para a idade, que pode ser comparado com a idade cronológica). Fonoaudiólogos ajudam a avaliar as habilidades de linguagem expressiva e receptiva (compreensão) da criança e compará-las com o nível geral de habilidade cognitiva. Algumas crianças apresentam discrepância entre as habilidades cognitivas e de linguagem. Por exemplo, crianças com autismo às vezes apresentam habilidades não verbais relativamente superiores em comparação com o desempenho verbal.
Paralisia cerebral
O nome "paralisia cerebral" é um termo diagnóstico atribuído a crianças com lesão cerebral estática de etiologia variada (por exemplo, nascimento prematuro, lesão hipóxica-isquêmica, meningite ou hemorragia intracerebral), associada a distúrbios do movimento e da postura. A paralisia cerebral não é causa de comprometimento cognitivo. Entretanto, as duas condições podem coexistir. Por essa razão, uma relação de causa e efeito muitas vezes é erroneamente presumida por médicos e pelo público em geral.[4]Odding E, Roebroeck ME, Stam HJ. The epidemiology of cerebral palsy: incidence, impairments and risk factors. Disabil Rehabil. 2006;28:183-191.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16467053?tool=bestpractice.com