Avaliação de taquicardia
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Resumo
A taquicardia, geralmente definida como a frequência cardíaca ≥100 bpm, pode ser uma resposta fisiológica normal a um processo sistêmico ou uma manifestação de uma patologia subjacente.[1]Page RL, Joglar JA, Caldwell MA, et al. 2015 ACC/AHA/HRS guideline for the management of adult patients with supraventricular tachycardia: a report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Clinical Practice Guidelines and the Heart Rhythm Society. J Am Coll Cardiol. 2016 Apr 5;67(13):e27-115. https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0735109715058404?via%3Dihub http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26409259?tool=bestpractice.com [2]Katritsis DG, Boriani G, Cosio FG, et al. European Heart Rhythm Association (EHRA) consensus document on the management of supraventricular arrhythmias, endorsed by Heart Rhythm Society (HRS), Asia-Pacific Heart Rhythm Society (APHRS), and Sociedad Latinoamericana de Estimulación Cardiaca y Electrofisiologia (SOLAECE). Europace. 2017 Mar 1;19(3):465-511. https://academic.oup.com/europace/article/19/3/465/2631183 http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27856540?tool=bestpractice.com A frequência cardíaca normal varia com a idade. A frequência sinusal normal em bebês é de 110 a 150 bpm e diminui gradualmente com a idade.[3]Bjerregaard P. Mean 24 hour heart rate, minimal heart rate and pauses in healthy subjects 40-79 years of age. Eur Heart J. 1983 Jan;4(1):44-51. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/6339245?tool=bestpractice.com
Classificação da taquiarritmia
Vários métodos de classificação da taquiarritmia são úteis para organizar e avaliar as taquicardias. Eles incluem: causas sinusais versus não sinusais; arritmias atriais versus ventriculares; taquicardias de complexo estreito versus complexo largo; arritmias regulares versus irregulares; e classificação baseada no local de origem da arritmia.[1]Page RL, Joglar JA, Caldwell MA, et al. 2015 ACC/AHA/HRS guideline for the management of adult patients with supraventricular tachycardia: a report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Clinical Practice Guidelines and the Heart Rhythm Society. J Am Coll Cardiol. 2016 Apr 5;67(13):e27-115. https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0735109715058404?via%3Dihub http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26409259?tool=bestpractice.com
Causas sinusais versus não sinusais:
A taquicardia sinusal é uma causa comum da taquicardia que pode ser frequentemente confundida com arritmia. O diagnóstico depende da morfologia da onda P e do contexto em que ocorre. Como cada impulso se origina no nó sinoatrial, o eletrocardiograma (ECG) mostra uma onda P antecedendo cada intervalo QRS com um eixo normal da onda P. Na maioria dos casos, pode ser identificada uma causa secundária da taquicardia sinusal. É importante fazer uma avaliação cuidadosa, para avaliar se a frequência sinusal é adequada para a situação clínica. A taquicardia sinusal pode ser confundida com outras arritmias supraventriculares, incluindo flutter atrial, principalmente com taquiarritmias rápidas (quando as ondas P são difíceis de serem distinguidas ou quando focos atriais ectópicos se originam próximo do nó sinoatrial, como próximo da veia cava superior ou acima da crista terminal).
Arritmia atrial versus ventricular:
O fato da arritmia se originar no átrio ou no ventrículo geralmente depende se o complexo QRS é largo ou estreito e da relação átrio:ventrículo. As arritmias atriais geralmente conduzem ao ventrículo através do sistema de His-Purkinje e resultam em um complexo QRS estreito. Pode ocorrer alguma sobreposição quando ocorre a condução com anormalidade (bloqueio de ramo esquerdo ou direito) e na presença de agentes antiarrítmicos que podem lentificar a condução (bloqueadores dos canais de sódio). Se as ondas P são discerníveis, uma relação átrio:ventrículo <1 é altamente sugestiva de arritmia ventricular, ao passo que uma relação >1 é altamente sugestiva de arritmia atrial. Uma relação átrio:ventrículo 1:1 pode ocorrer tanto com arritmias atriais como ventriculares.
Complexo QRS estreito versus largo:
A classificação também pode ser baseada em se há taquicardia de complexo estreito (intervalo de QRS <120 ms) ou largo (intervalo de QRS >120 ms). Uma taquicardia com complexo QRS estreito sugere que a condução anterógrada e, portanto, a despolarização do ventrículo ocorre por meio do nó atrioventricular (AV) e do sistema de His-Purkinje. Uma taquicardia ventricular de complexo largo sugere que a condução pelo ventrículo ocorre por meio das conexões mais lentas miócito a miócito (devido à condução AV através de uma via acessória ou de uma origem ventricular) e pode ser observada mesmo com o ritmo sinusal. No entanto, taquiarritmias atriais com condução aberrante podem se manifestar como uma taquicardia de complexo largo.[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Ritmo sinusal com pré-excitaçãoDo acervo de Robert W. Rho, MD; usado com permissão [Citation ends].
[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Ritmo sinusal com pré-excitação (detalhe)Do acervo de Robert W. Rho, MD; usado com permissão [Citation ends].
Ritmo regular versus irregular:
É fácil determinar clinicamente se um ritmo é regular ou irregular e isso pode ajudar a direcionar o diagnóstico da taquiarritmia. Um ritmo irregular é definido como uma variabilidade R-R entre os batimentos de mais de 30 ms. Em geral, as arritmias irregulares de complexo estreito incluem: fibrilação atrial, flutter atrial com condução variável e taquicardia atrial multifocal. Uma taquicardia irregular de complexo largo pode ser causada por fibrilação atrial com pré-excitação (devido a uma via acessória com condução anterógrada rápida), taquicardia ventricular polimórfica e fibrilação atrial, ou taquicardia atrial multifocal com condução aberrante.
Local de origem:
As taquiarritmias podem ser classificadas de acordo com o local de origem: atrial, juncional ou ventricular.
Os impulsos atriais são caracterizados pela despolarização inicial do átrio, a partir de um foco isolado, como taquicardia sinusal ou taquicardia atrial; macrorreentrada ao redor de um obstáculo anatômico, como no flutter atrial típico; ou de várias ondulações da reentrada, como a fibrilação atrial.
As arritmias que se originam no nível da junção do átrio e do ventrículo (nó AV e/ou feixe de His proximal), como taquicardia por reentrada no nó atrioventricular ou taquicardia ectópica juncional, são caracterizadas pela despolarização do ventrículo e da ativação atrial retrógrada (se presente), manifestada por uma onda P retrógrada.
As arritmias que se originam a partir do ventrículo podem se originar a partir do sistema de His-Purkinje distal ou do miocárdio ventricular. O sítio de origem dentro do ventrículo ainda define algumas arritmias dentro do ventrículo. Os exemplos incluem taquicardia ventricular do trato de saída do ventrículo direito e taquicardia ventricular por reentrada de ramo. A estabilidade hemodinâmica não é um fator útil na diferenciação das arritmias atriais e ventriculares. Alguns casos de taquicardia ventricular podem ser inicialmente bem tolerados hemodinamicamente. O diagnóstico errado e o tratamento inapropriado (isto é, bloqueadores de canal de cálcio) podem ter consequências catastróficas.
Quando um paciente com uma taquicardia de complexo largo estiver sendo avaliado e o diagnóstico for incerto, a arritmia deve ser inicialmente considerada uma taquicardia ventricular até prova em contrário.
Epidemiologia
A taquicardia sinusal é a causa mais comum de taquicardia, por ser geralmente uma resposta fisiológica normal à estimulação emocional ou física.
A fibrilação atrial é a arritmia mais comum na prática clínica, com uma prevalência estimada de 0.5% a 1% na população geral e que aumenta com a idade.[4]Go AS, Hylek EM, Phillips KA, et al. Prevalence of diagnosed atrial fibrillation in adults: national implications for rhythm management and stroke prevention: the AnTicoagulation and Risk Factors in Atrial Fibrillation (ATRIA) Study. JAMA. 2001 May 9;285(18):2370-5. http://jama.ama-assn.org/cgi/reprint/285/18/2370 http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11343485?tool=bestpractice.com [5]January CT, Wann LS, Alpert JS, et al; ACC/AHA Task Force Members. 2014 AHA/ACC/HRS guideline for the management of patients with atrial fibrillation: executive summary: a report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on practice guidelines and the Heart Rhythm Society. Circulation. 2014 Dec 2;130(23):2071-104. http://www.onlinejacc.org/content/64/21/2246 http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24682348?tool=bestpractice.com [6]Stewart S, Hart CL, Hole DJ, et al. Population prevalence, incidence, and predictors of atrial fibrillation in the Renfrew/Paisley study. Heart. 2001 Nov;86(5):516-21. https://www.doi.org/10.1136/heart.86.5.516 http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11602543?tool=bestpractice.com [7]Murdoch DL, O'Neill K, Jackson J, et al. Are atrial fibrillation guidelines altering management? A community based study. Scott Med J. 2005;50:166-169. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16374981?tool=bestpractice.com Até 9% dos pacientes com 80 anos de idade ou mais têm fibrilação atrial.[4]Go AS, Hylek EM, Phillips KA, et al. Prevalence of diagnosed atrial fibrillation in adults: national implications for rhythm management and stroke prevention: the AnTicoagulation and Risk Factors in Atrial Fibrillation (ATRIA) Study. JAMA. 2001 May 9;285(18):2370-5. http://jama.ama-assn.org/cgi/reprint/285/18/2370 http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11343485?tool=bestpractice.com [8]Murphy NF, Simpson CR, Jhund PS, et al. A national survey of the prevalence, incidence, primary care burden and treatment of atrial fibrillation in Scotland. Heart. 2007 May;93(5):606-12. https://www.doi.org/10.1136/hrt.2006.107573 http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17277353?tool=bestpractice.com À medida que aumenta a proporção de idosos na população, o número de pessoas com fibrilação atrial tende a crescer significativamente.
A incidência de flutter atrial foi relatada como 88 casos por 100,000 pessoas-anos; é mais comum em pessoas do sexo masculino, com idade avançada e nas com insuficiência cardíaca ou doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).[9]Granada J, Uribe W, Chyou P, et al. Incidence and predictors of atrial flutter in the general population. J Am Coll Cardiol. 2000 Dec;36(7):2242-6. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11127467?tool=bestpractice.com Estima-se que seja 2.5 vezes mais comum que a taquicardia supraventricular paroxística (TSVP).
A TSVP, definida como uma taquicardia supraventricular intermitente (taquicardia de reentrada do nó atrioventricular [AV], taquicardia reciprocante atrioventricular ou taquicardia atrial) tem uma incidência de 36 casos por 100,000 pessoas-anos e uma prevalência de 2.29 casos por 1000 pessoas.[10]Orejarena L, Vidaillet HJ, DeStefano F, et al. Paroxysmal supraventricular tachycardia in the general population. J Am Coll Cardiol. 1998 Jan;31(1):150-7. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/9426034?tool=bestpractice.com As mulheres têm duas vezes mais chances de desenvolver TSVP e a incidência é cinco vezes maior em pessoas com mais de 65 anos de idade em comparação com pessoas mais jovens. A maioria dos casos de taquicardia supraventricular se deve à taquicardia por reentrada no nó atrioventricular (60% dos casos); o restante se deve à taquicardia reciprocante atrioventricular (30%) e à taquicardia atrial (10%).[11]Trohman RG. Supraventricular tachycardia: implications for the intensivist. Crit Care Med. 2000 Oct;28(10 Suppl):N129-35. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11055681?tool=bestpractice.com
A prevalência de taquicardia sinusal inapropriada não é bem conhecida, e os mecanismos subjacentes são provavelmente multifatoriais, mas os pacientes costumam ser jovens (com idade entre 15 e 50 anos) e mulheres.[1]Page RL, Joglar JA, Caldwell MA, et al. 2015 ACC/AHA/HRS guideline for the management of adult patients with supraventricular tachycardia: a report of the American College of Cardiology/American Heart Association Task Force on Clinical Practice Guidelines and the Heart Rhythm Society. J Am Coll Cardiol. 2016 Apr 5;67(13):e27-115. https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0735109715058404?via%3Dihub http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26409259?tool=bestpractice.com [2]Katritsis DG, Boriani G, Cosio FG, et al. European Heart Rhythm Association (EHRA) consensus document on the management of supraventricular arrhythmias, endorsed by Heart Rhythm Society (HRS), Asia-Pacific Heart Rhythm Society (APHRS), and Sociedad Latinoamericana de Estimulación Cardiaca y Electrofisiologia (SOLAECE). Europace. 2017 Mar 1;19(3):465-511. https://academic.oup.com/europace/article/19/3/465/2631183 http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27856540?tool=bestpractice.com [12]Brady PA, Low PA, Shen WK. Inappropriate sinus tachycardia, postural orthostatic tachycardia syndrome, and overlapping syndromes. Pacing Clin Electrophysiol. 2005 Oct;28(10):1112-21. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16221272?tool=bestpractice.com
A prevalência de taquiarritmia ventricular é altamente dependente do tipo e da duração. Em pacientes com história de infarto do miocárdio (IAM) prévia, a incidência de taquiarritmia ventricular monomórfica sustentada depende do tamanho do infarto e da função ventricular esquerda global.
Diagnósticos diferenciais
comuns
- Taquicardia sinusal
- Fibrilação atrial aguda
- Fibrilação atrial crônica
- Flutter atrial
- Taquicardia atrial
- Taquicardia por reentrada no nó atrioventricular
- Taquicardia de reentrada do nó atrioventricular (AV)/síndrome de Wolff-Parkinson-White
- Taquicardia atrial multifocal
- Taquicardia ectópica juncional
- Taquicardia ventricular monomórfica com infarto do miocárdio prévio
- Taquicardia ventricular monomórfica com cardiomiopatia não isquêmica
- Fibrilação ventricular
- Taquicardia ventricular polimórfica com intervalo QT normal
- Taquicardia ventricular idiopática: coração estruturalmente normal
Incomuns
- Taquicardia de reentrada do nó sinusal
- Taquicardia sinusal inapropriada
- Taquicardia juncional reciprocante permanente
- Torsades de pointes
- Taquicardia ventricular bidirecional
- Ritmo idioventricular acelerado
Colaboradores
Autores
Ramin Shadman, MD, FACC

Attending Physician
Southern California Permanente Medical Group
Assistant Professor of Medicine
UCLA
Los Angeles
CA
Declarações
RS declares that he has no competing interests.
Robert W. Rho, MD, FACC

Attending Physician
Seattle
WA
Declarações
RWR is an author of a reference cited in this topic.
Revisores
Mark M. Gallagher, BSc, MD
Consultant Cardiologist and Electro-physiologist
St George's Hospital
London
UK
Declarações
MMG declares that he has no competing interests.
Fred Kusumoto, MD
Associate Professor of Medicine
Cardiovascular Diseases
Mayo Clinic
Jacksonville
FL
Declarações
FK declares that he has no competing interests.
Zachary D. Goldberger, MD
Cardiology Fellow
University of Michigan Health System
Ann Arbor
MI
Declarações
ZDG declares that he has no competing interests.
Diretrizes
- 2022 ESC Guidelines for the management of patients with ventricular arrhythmias and the prevention of sudden cardiac death
- Atrial fibrillation: diagnosis and management
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