A dor abdominal crônica é definida como um desconforto abdominal contínuo ou intermitente durante pelo menos 6 meses. A dor pode surgir de qualquer sistema, incluindo os tratos geniturinário, gastrointestinal e ginecológico. A etiologia da dor abdominal crônica é tão ampla que apenas as causas mais comuns serão tratadas aqui. Nem sempre existe uma relação evidente com uma estrutura anatômica ou um processo subjacente.
Classificação
A dor abdominal crônica é dividida entre de etiologias orgânicas e funcionais. As etiologias orgânicas possuem uma evidente causa anatômica, fisiológica ou metabólica. Apesar de uma avaliação diagnóstica completa, a dor abdominal crônica sem uma causa evidente é geralmente denominada como um transtorno funcional. Acredita-se que a dor abdominal funcional se origine de hipersensibilidade visceral e alteração da motilidade multifatoriais e de uma função alterada do eixo intestino-cérebro.[1]Korterink J, Devanarayana NM, Rajindrajith S, et al. Childhood functional abdominal pain: mechanisms and management. Nat Rev Gastroenterol Hepatol. 2015 Mar;12(3):159-71.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25666642?tool=bestpractice.com
É menos provável que a dor abdominal crônica, comparada à dor abdominal aguda, revele uma patologia orgânica subjacente. A dor abdominal aguda geralmente indica uma alteração fisiológica súbita, como um órgão com cavidade perfurada ou obstruída, infecção, inflamação ou um evento isquêmico súbito.
Epidemiologia
A dor abdominal crônica é uma queixa comum nas unidades básicas de saúde e em clínicas subespecializadas. A incidência da dor abdominal não especificada é de 22.3 a cada 1000 pessoas/ano.[2]Wallander MA, Johansson S, Ruigomez A, et al. Unspecified abdominal pain in primary care: the role of gastrointestinal morbidity. Int J Clin Pract. 2007 Oct;61(10):1663-70.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17681003?tool=bestpractice.com
A prevalência relatada varia de 8% a 54%.[3]Heading RC. Prevalence of upper gastrointestinal symptoms in the general population: a systematic review. Scand J Gastroenterol Suppl. 1999;231:3-8.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10565617?tool=bestpractice.com
Uma pesquisa transversal realizada com adultos norte-americanos relatou uma prevalência de 21.8% na população geral.[4]Sandler RS, Stewart WF, Liberman JN, et al. Abdominal pain, bloating, and diarrhea in the United States: prevalence and impact. Dig Dis Sci. 2000 Jun;45(6):1166-71.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10877233?tool=bestpractice.com
As mulheres têm maior probabilidade que os homens de relatarem dor abdominal crônica.[4]Sandler RS, Stewart WF, Liberman JN, et al. Abdominal pain, bloating, and diarrhea in the United States: prevalence and impact. Dig Dis Sci. 2000 Jun;45(6):1166-71.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10877233?tool=bestpractice.com
A prevalência da dor abdominal funcional pediátrica é de 13.5%.[5]Korterink JJ, Diederen K, Benninga MA, et al. Epidemiology of pediatric functional abdominal pain disorders: a meta-analysis. PLoS One. 2015 May 20;10(5):e0126982.
https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0126982
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25992621?tool=bestpractice.com
O diagnóstico e o tratamento dos pacientes com dor abdominal crônica geralmente são desafiadores, e pode ser uma experiência frustrante tanto para os médicos quanto para os pacientes. Os fatores que contribuem para isso incluem a baixa sensibilidade da história e do exame físico, o diagnóstico diferencial amplo que abrange diversas especialidades e a investigação diagnóstica geralmente negativa.
Estudos epidemiológicos sugerem que a grande maioria dos pacientes com dor abdominal crônica possui transtornos gastrointestinais, como síndrome do intestino irritável ou dispepsia funcional.[6]Talley NJ, Weaver AL, Zinsmeister AR, et al. Onset and disappearance of gastrointestinal symptoms and functional gastrointestinal disorders. Am J Epidemiol. 1992 Jul 15;136(2):165-77.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/1415139?tool=bestpractice.com
[7]Ford AC, Marwaha A, Lim A, et al. What is the prevalence of clinically significant endoscopic findings in subjects with dyspepsia? Systematic review and meta-analysis. Clin Gastroenterol Hepatol. 2010 Oct;8(10):830-7.e2.
https://www.cghjournal.org/article/S1542-3565(10)00563-X/fulltext
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20541625?tool=bestpractice.com
[8]Keefer L, Drossman DA, Guthrie E, et al. Centrally mediated disorders of gastrointestinal pain. Gastroenterology. 2016 May;150(6):1408-19.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27144628?tool=bestpractice.com
No entanto, a dor associada a esses transtornos é inespecífica e pode assemelhar-se ou coexistir com transtornos orgânicos.