O prurido é definido como uma sensação desagradável que causa vontade de se coçar. Os termos prurido e coceira são usados como sinônimos. O prurido é o sintoma subjetivo mais comum na dermatologia e pode ocorrer com ou sem lesões cutâneas visíveis. Pode ser localizado ou generalizado.
É importante distinguir o prurido agudo do crônico. O prurido que dura >6 semanas é definido como prurido crônico.[1]Ständer S, Weisshaar E, Mettang T, et al. Clinical classification of itch: a position paper of the International Forum for the Study of Itch. Acta Derm Venereol. 2007;87:291-294.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17598029?tool=bestpractice.com
Com base na etiologia, o prurido crônico pode ser classificado como dermatológico, sistêmico, neurológico, psicogênico/psicossomático, misto ou de etiologia desconhecida. O prurido crônico pode ser muito incômodo e refratário ao tratamento. Sua intensidade frequentemente está correlacionada com o grau de prejuízo da qualidade de vida, o nível de estigmatização, a gravidade da depressão e o estresse emocional.
De acordo com a classificação clínica atualmente aceita, os pacientes com prurido podem ser caracterizados como aqueles com prurido na pele inflamada com doença primária; prurido na pele não inflamada e normal; e pele pruriginosa com lesões secundárias crônicas pelo ato de se coçar.[1]Ständer S, Weisshaar E, Mettang T, et al. Clinical classification of itch: a position paper of the International Forum for the Study of Itch. Acta Derm Venereol. 2007;87:291-294.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17598029?tool=bestpractice.com
Epidemiologia
O prurido é uma afecção comum. Um grande estudo epidemiológico realizado na Alemanha com 11,730 indivíduos demonstrou uma prevalência pontual do prurido crônico (pelo menos 6 semanas antes da coleta dos dados) de 16.8%; a prevalência aumentou com a idade de 12.3% (16-30 anos) para 20.3% (61-70 anos).[2]Ständer S, Schäfer I, Phan NQ, et al. Prevalence of chronic pruritus in Germany: results of a cross-sectional study in a sample working population of 11,730. Dermatology. 2010;221:229-235.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20924157?tool=bestpractice.com
Em um estudo de morbidade autorrelatada, realizado na Noruega, o prurido foi o sintoma cutâneo mencionado com maior frequência (7%) e foi relatado como significativamente mais frequente em homens do Leste Asiático (18%) e do Oriente Médio/Norte da África (13%).[3]Dalgard F, Holm JO, Svensson A, et al. Self reported skin morbidity and ethnicity: a population-based study in a Western community. BMC Dermatol. 2007;7:4.
http://bmcdermatol.biomedcentral.com/articles/10.1186/1471-5945-7-4
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17603893?tool=bestpractice.com
Os pacientes que relataram prurido eram mais jovens, predominantemente do sexo feminino e mais incomodados; eles apresentavam renda mais baixa, menos apoio social e haviam passado por situações mais negativas na vida.[4]Dalgard F, Lien L, Dalen I. Itch in the community: associations with psychosocial factors among adults. J Eur Acad Dermatol Venereol. 2007;21:1215-1219.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17894708?tool=bestpractice.com
O prurido é um sintoma comum de muitas doenças de pele. Por exemplo, ele é um sintoma principal do eczema atópico, e acredita-se que todos os pacientes com essa doença tenham prurido em algum momento durante a doença.[5]Ständer S, Streit M, Darsow U, et al. Diagnostic and therapeutic procedures in chronic pruritus [in German]. J Dtsch Dermatol Ges. 2006;4:350-370.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16638066?tool=bestpractice.com
De maneira similar, cerca de 70% a 90% dos pacientes com psoríase apresentam prurido.[6]Gupta MA, Gupta AK, Kirkby S, et al. Pruritus in psoriasis. A prospective study of some psychiatric and dermatologic correlates. Arch Dermatol. 1988;124:1052-1057.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/3389849?tool=bestpractice.com
[7]Yosipovitch G, Goon A, Wee J, et al. The prevalence and clinical characteristics of pruritus among patients with extensive psoriasis. Br J Dermatol. 2000;143:969-973.
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[8]Szepietowski JC, Reich A, Wisnicka B. Itching in patients suffering from psoriasis. Acta Dermatovenerol Croat. 2002;10:221-226.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12588672?tool=bestpractice.com
[9]Szepietowski JC, Reich A. Pruritus in psoriasis: an update. Eur J Pain. 2016;20:41-46.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26415584?tool=bestpractice.com
O prurido também pode complicar outras doenças sistêmicas, como a insuficiência renal crônica, neoplasias hematológicas ou distúrbios hepáticos.[10]Manenti L, Tansinda P, Vaglio A. Uraemic pruritus: clinical characteristics, pathophysiology and treatment. Drugs. 2009;69:251-263.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19275270?tool=bestpractice.com
Por exemplo, a frequência de prurido crônico em pacientes em hemodiálise foi estimada entre 25% e 55%.[11]Weiss M, Mettang T, Tschulena U, et al. Prevalence of chronic itch and associated factors in haemodialysis patients: a representative cross-sectional study. Acta Derm Venereol. 2015;95:816-821.
http://www.medicaljournals.se/acta/content/?doi=10.2340/00015555-2087&html=1
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25740325?tool=bestpractice.com
[12]Szepietowski JC, Sikora M, Kusztal M, et al. Uremic pruritus: a clinical study of maintenance hemodialysis patients. J Dermatol. 2002;29:621-627.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12432992?tool=bestpractice.com
[13]Hu X, Sang Y, Yang M, et al. Prevalence of chronic kidney disease-associated pruritus among adult dialysis patients: A meta-analysis of cross-sectional studies. Medicine (Baltimore). 2018 May;97(21):e10633.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6392722
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29794739?tool=bestpractice.com
Fisiopatologia
A fisiopatologia depende da doença subjacente. O prurido pode ser induzido ou modulado por diferentes mediadores, inclusive histamina, acetilcolina, catecolaminas, hemocianinas, quimiocinas, citocinas (interleucina 2, interleucina 31), neuropeptídeos, endotelina, endovaniloides, endocanabinoides, hormônios do eixo hipotálamo-hipófise, calicreínas, proteases, prostaglandinas, leucotrieno B4, peptídeos neurotróficos e opioides.[14]Paus R, Schmelz M, Biro T, et al. Frontiers in pruritus research: scratching the brain for more effective itch therapy. J Clin Invest. 2006;116:1174-1186.
http://www.jci.org/articles/view/28553
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16670758?tool=bestpractice.com
Uma via neuronal específica para o prurido foi identificada. Os estímulos pruriginosos são transmitidos principalmente pelas fibras C aferentes não mielinizadas mecanoinsensíveis que têm uma velocidade de condução particularmente baixa, extensos territórios de inervação e alto limiar elétrico transcutâneo.
Na medula espinhal, os estímulos pruriginosos são transferidos por neurônios pruriceptivos específicos dos cornos dorsais à parte posterior do núcleo talâmico ventromedial, que se projetam para o córtex insular dorsal. Neurônios com vias para prurido foram identificados na medula espinhal, exibindo expressão de receptores de peptídeo liberador de gastrina.[15]Sun YG, Zhao ZQ, Meng XL, et al. Cellular basis of itch sensation. Science. 2009;325:1531-1534.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2786498
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19661382?tool=bestpractice.com
[16]Akiyama T, Tominaga M, Takamori K, et al. Roles of glutamate, substance P, and gastrin-releasing peptide as spinal neurotransmitters of histaminergic and nonhistaminergic itch. Pain. 2014;155:80-92.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24041961?tool=bestpractice.com
[17]Papoiu AD, Coghill RC, Kraft RA, et al. A tale of two itches. Common features and notable differences in brain activation evoked by cowhage and histamine induced itch. Neuroimage. 2012;59:3611-3623.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3288667
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Estímulos de prurido induzidos coativam o córtex cingulado anterior, a área motora suplementar e o lobo parietal inferior predominantemente no hemisfério esquerdo.
Após a indução do prurido, os vários locais ativados no cérebro vão contra a existência de um único centro para a comichão e refletem a multidimensionalidade do prurido.[18]Steinhoff M, Bienenstock J, Schmelz M, et al. Neurophysiological, neuroimmunological, and neuroendocrine basis of pruritus. J Invest Dermatol. 2006;126:1705-1718.
http://www.jidonline.org/article/S0022-202X(15)33013-X/fulltext
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É importante observar que foi demonstrado que a atividade cerebral em pacientes com prurido crônico difere de forma significativa da atividade observada em sujeitos saudáveis, quando sob estímulos pruriginosos.[19]Ishiuji Y, Coghill RC, Patel TS, et al. Distinct patterns of brain activity evoked by histamine-induced itch reveal an association with itch intensity and disease severity in atopic dermatitis. Br J Dermatol. 2009;161:1072-1080.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2784001
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19663870?tool=bestpractice.com