A fadiga pode ser um sintoma de qualquer condição médica. Na abordagem deste tema, os diferenciais discutidos se concentram em pessoas que apresentam fadiga ou nas quais a fadiga é o único sintoma. As condições nas quais a fadiga pode não ser necessariamente uma queixa inicial, mas ainda assim é considerado um sintoma acentuadamente debilitante e significativo, também estão incluídas.
Definição
Existem inúmeras definições e classificações de fadiga, refletindo a multiplicidade de interpretações, dependendo se se trata do paciente, médico, biólogo ou fisiologista. Uma definição comum e prática caracteriza a fadiga como uma sensação de exaustão durante ou após atividades cotidianas, ou uma sensação de energia insuficiente para iniciar estas atividades.[1]Chen MK. The epidemiology of self-perceived fatigue among adults. Prev Med. 1986 Jan;15(1):74-81.
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Epidemiologia
A fadiga é uma queixa comum na população em geral, com uma prevalência entre 4.3% e 21.9%.[2]Hickie IB, Hooker AW, Hadzi-Pavlovic D, et al. Fatigue in selected primary care settings: sociodemographic and psychiatric correlates. Med J Aust. 1996 May 20;164(10):585-8.
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[3]Wessely S, Chalder T, Hirsch S, et al. The prevalence and morbidity of chronic fatigue and chronic fatigue syndrome: a prospective primary care study. Am J Public Health. 1997 Sep;87(9):1449-55.
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[4]Kroenke K, Wood DR, Mangelsdorff AD, et al. Chronic fatigue in primary care. Prevalence, patient characteristics, and outcome. JAMA. 1988 Aug 19;260(7):929-34.
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[5]Skapinakis P, Lewis G, Meltzer H. Clarifying the relationship between unexplained chronic fatigue and psychiatric morbidity: results from a community survey in Great Britain. Int Rev Psychiatry. 2003 Feb-May;15(1-2):57-64.
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[6]Steele L, Dobbins JG, Fukuda K, et al. The epidemiology of chronic fatigue in San Francisco. Am J Med. 1998 Sep 28;105(3A):83S-90S.
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[7]Galland-Decker C, Marques-Vidal P, Vollenweider P. Prevalence and factors associated with fatigue in the Lausanne middle-aged population: a population-based, cross-sectional survey. BMJ Open. 2019 Aug 24;9(8):e027070.
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Nos EUA, pesquisas baseadas em atenção primária demonstraram que entre 11% e 33% dos pacientes relatam fadiga significativa, resultando em cerca de 7 milhões de consultas de atenção primária por ano.
No contexto de atenção primária, um diagnóstico clínico ou psiquiátrico é encontrado na maioria dos pacientes que apresentarem fadiga (pelo menos dois terços).[8]Prins JB, van der Meer JW, Bleijenberg G. Chronic fatigue syndrome. Lancet. 2006 Jan 28;367(9507):346-55.
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[9]Wessely S, Chalder T, Hirsch S, et al. Psychological symptoms, somatic symptoms, and psychiatric disorder in chronic fatigue and chronic fatigue syndrome: a prospective study in the primary care setting. Am J Psychiatry. 1996 Aug;153(8):1050-9.
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[10]Cathebras PJ, Robbins JM, Kirmayer LJ, et al. Fatigue in primary care: prevalence, psychiatric comorbidity, illness behavior, and outcome. J Gen Intern Med. 1992 May-Jun;7(3):276-86.
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[11]Okkes IM, Oskam SK, Lamberts H. The probability of specific diagnoses for patients presenting with common symptoms to Dutch family physicians. J Fam Pract. 2002 Jan;51(1):31-6.
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[12]Walker EA, Katon WJ, Jemelka RP. Psychiatric disorders and medical care utilization among people in the general population who report fatigue. J Gen Intern Med. 1993 Aug;8(8):436-40.
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Um estudo holandês identificou um diagnóstico específico em 63% dos pacientes que procuraram um clínico geral com fraqueza ou fadiga generalizada por qualquer intervalo de tempo.[11]Okkes IM, Oskam SK, Lamberts H. The probability of specific diagnoses for patients presenting with common symptoms to Dutch family physicians. J Fam Pract. 2002 Jan;51(1):31-6.
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Um estudo identificou os diagnósticos mais comuns, em ordem decrescente, como doença viral, infecção do trato respiratório superior, anemia ferropriva, bronquite aguda, efeitos adversos de um agente terapêutico na dose adequada e depressão ou outro transtorno mental.[13]Bates DW, Schmitt W, Buchwald D, et al. Prevalence of fatigue and chronic fatigue syndrome in a primary care practice. Arch Intern Med. 1993 Dec 27;153(24):2759-65.
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As doenças psiquiátricas mais frequentes incluem depressão maior, transtorno de pânico e transtorno de somatização. Uma revisão sistemática e uma metanálise de estudos que relataram o diagnóstico diferencial de cansaço na atenção primária constataram que a doença somática grave era uma causa rara. A prevalência das seguintes causas foi constatada da seguinte maneira: anemia (2.8%); neoplasia maligna (0.6%); doença somática grave (4.3%); depressão (18.5%).[14]Stadje R, Dornieden K, Baum E, et al. The differential diagnosis of tiredness: a systematic review. BMC Fam Pract. 2016 Oct 20;17(1):147.
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A prevalência de fadiga parece ser maior em mulheres que em homens, em virtude da deficiência de ferro, como consequência da menstruação, e de fatores psicossociais.[1]Chen MK. The epidemiology of self-perceived fatigue among adults. Prev Med. 1986 Jan;15(1):74-81.
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[6]Steele L, Dobbins JG, Fukuda K, et al. The epidemiology of chronic fatigue in San Francisco. Am J Med. 1998 Sep 28;105(3A):83S-90S.
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[7]Galland-Decker C, Marques-Vidal P, Vollenweider P. Prevalence and factors associated with fatigue in the Lausanne middle-aged population: a population-based, cross-sectional survey. BMJ Open. 2019 Aug 24;9(8):e027070.
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[15]Bensing JM, Hulsman RL, Schreurs KM. Gender differences in fatigue: biopsychosocial factors relating to fatigue in men and women. Med Care. 1999 Oct;37(10):1078-83.
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[16]Verdon F, Burnand B, Stubi CL, et al. Iron supplementation for unexplained fatigue in non-anaemic women: double blind randomised placebo controlled trial. BMJ. 2003 May 24;326(7399):1124.
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[17]Vaucher P, Druais PL, Waldvogel S, et al. Effect of iron supplementation on fatigue in nonanemic menstruating women with low ferritin: a randomized controlled trial. CMAJ. 2012 Aug 7;184(11):1247-54.
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Classificação
A fadiga pode ser dividida em categorias com base na origem, causa e duração dos sintomas. A origem da fadiga pode ser:
Ela pode ser atribuída a:[8]Prins JB, van der Meer JW, Bleijenberg G. Chronic fatigue syndrome. Lancet. 2006 Jan 28;367(9507):346-55.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16443043?tool=bestpractice.com
Doença física
Fatores psicológicos (por exemplo, transtorno psiquiátrico), sociais (por exemplo, problemas de família) e fisiológicos (por exemplo, idade avançada)
Doenças ocupacionais (por exemplo, estresse no local de trabalho).
A duração dos sintomas pode estar relacionada a:
Fadiga recente (sintomas que duram <1 mês)
Fadiga prolongada (sintomas que duram >1 mês)
Fadiga crônica (sintomas que duram >6 meses).
Quando inexplicada, a fadiga crônica avaliada clinicamente pode ser dividida em síndrome da fadiga crônica (também conhecida como encefalomielite miálgica [ME]) e fadiga crônica idiopática.[18]Fukuda K, Straus SE, Hickie I, et al. The chronic fatigue syndrome: a comprehensive approach to its definition and study. International Chronic Fatigue Syndrome Study Group. Ann Intern Med. 1994 Dec 15;121(12):953-9.
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[19]Reid S, Chalder T, Cleare A, et al. Chronic fatigue syndrome. BMJ. 2000 Jan 29;320(7230):292-6.
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A síndrome da fadiga crônica representa um pequeno subconjunto de pessoas que relatam sofrer de fadiga crônica. Mesmo em pacientes com fadiga com duração de 6 meses ou mais, a prevalência é <40%. Estudos europeus mostraram que pacientes com fadiga com duração superior a 6 meses receberam um diagnóstico de síndrome de fadiga crônica em até um terço dos casos.[9]Wessely S, Chalder T, Hirsch S, et al. Psychological symptoms, somatic symptoms, and psychiatric disorder in chronic fatigue and chronic fatigue syndrome: a prospective study in the primary care setting. Am J Psychiatry. 1996 Aug;153(8):1050-9.
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[13]Bates DW, Schmitt W, Buchwald D, et al. Prevalence of fatigue and chronic fatigue syndrome in a primary care practice. Arch Intern Med. 1993 Dec 27;153(24):2759-65.
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[20]Buchwald D, Umali P, Umali J, et al. Chronic fatigue and the chronic fatigue syndrome: prevalence in a Pacific Northwest health care system. Ann Intern Med. 1995 Jul 15;123(2):81-8.
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[21]Darbishire L, Ridsdale L, Seed PT. Distinguishing patients with chronic fatigue from those with chronic fatigue syndrome: a diagnostic study in UK primary care. Br J Gen Pract. 2003 Jun;53(491):441-5.
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[22]Ridsdale L, Evans A, Jerrett W, et al. Patients with fatigue in general practice: a prospective study. BMJ. 1993 Jul 10;307(6896):103-6.
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O Institute of Medicine dos EUA agrupou vários sintomas principais associados à síndrome da fadiga crônica e propôs o termo "doença sistêmica de intolerância ao esforço" (DSIE) como uma alternativa para a síndrome da fadiga crônica.[23]Institute of Medicine. Beyond myalgic encephalomyelitis/chronic fatigue syndrome: redefining an illness. Washington, DC: The National Academies Press; 2015.