A perda olfatória foi associada a uma variedade de causas e pode influenciar profundamente a qualidade de vida do paciente.
Epidemiologia
Estima-se que a anosmia funcional tenha prevalência de aproximadamente 5% da população geral.[1]Hummel T, Whitcroft KL, Andrews P, et al. Position paper on olfactory dysfunction. Rhinology. 2016 Jan 31;56(1):1-30.
https://www.rhinologyjournal.com/Rhinology_issues/manuscript_1593.pdf
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28623665?tool=bestpractice.com
Estudos sugerem que a prevalência de comprometimento olfatório na população adulta varia de 0,6%, em pessoas com menos de 35 anos de idade, a 13,9%, em pessoas com idade ≥65 anos (dependendo do método de teste utilizado, dados demográficos da amostra e definições de comprometimento).[1]Hummel T, Whitcroft KL, Andrews P, et al. Position paper on olfactory dysfunction. Rhinology. 2016 Jan 31;56(1):1-30.
https://www.rhinologyjournal.com/Rhinology_issues/manuscript_1593.pdf
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28623665?tool=bestpractice.com
[2]Schubert CR, Cruickshanks KJ, Fischer ME, et al. Olfactory impairment in an adult population: the Beaver Dam Offspring Study. Chem Senses. 2012 May;37(4):325-34.
https://academic.oup.com/chemse/article/37/4/325/277450
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22045704?tool=bestpractice.com
[3]Desiato VM, Levy DA, Byun YJ, et al. The prevalence of olfactory dysfunction in the general population: a systematic review and meta-analysis. Am J Rhinol Allergy. 2021 Mar;35(2):195-205.
https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/1945892420946254
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32746612?tool=bestpractice.com
A prevalência de comprometimento olfatório aumenta com a idade e o sexo masculino, chegando a aproximadamente 25% em adultos com idade entre 60 e 90 anos.[2]Schubert CR, Cruickshanks KJ, Fischer ME, et al. Olfactory impairment in an adult population: the Beaver Dam Offspring Study. Chem Senses. 2012 May;37(4):325-34.
https://academic.oup.com/chemse/article/37/4/325/277450
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22045704?tool=bestpractice.com
[4]Pinto JM, Wroblewski KE, Kern DW, et al. The Rate of Age-Related Olfactory Decline Among the General Population of Older U.S. Adults. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2015 Nov;70(11):1435-41.
https://www.doi.org/10.1093/gerona/glv072
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26253908?tool=bestpractice.com
[5]Seubert J, Laukka EJ, Rizzuto D, et al. Prevalence and Correlates of Olfactory Dysfunction in Old Age: A Population-Based Study. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2017 Aug 1;72(8):1072-1079.
https://academic.oup.com/biomedgerontology/article/72/8/1072/3746132
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28444135?tool=bestpractice.com
Em uma amostra transversal de adultos norte-americanos com idade avançada (idade média de 68 anos), aproximadamente 22% não conseguiram identificar quatro ou mais odores usando uma tarefa validada de identificação de odores.[6]Pinto JM, Schumm LP, Wroblewski KE, et al. Racial disparities in olfactory loss among older adults in the United States. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2014 Mar;69(3):323-9.
https://www.doi.org/10.1093/gerona/glt063
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23689829?tool=bestpractice.com
Afro-americanos e hispânicos com idade avançada apresentaram maior probabilidade de sofrer de disfunção olfatória.[6]Pinto JM, Schumm LP, Wroblewski KE, et al. Racial disparities in olfactory loss among older adults in the United States. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2014 Mar;69(3):323-9.
https://www.doi.org/10.1093/gerona/glt063
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23689829?tool=bestpractice.com
Etiologia
Em pacientes que se apresentam primariamente em decorrência de perda do olfato, as etiologias identificadas com maior frequência incluem infecção viral prévia do trato respiratório superior, trauma cranioencefálico e inflamação crônica subjacente dos seios nasais.[7]Deems DA, Doty RL, Settle RG, et al. Smell and taste disorders, a study of 750 patients from the University of Pennsylvania Smell and Taste Center. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 1991;117:519-528.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2021470?tool=bestpractice.com
[8]Seiden AM, Duncan HJ. The diagnosis of a conductive olfactory loss. Laryngoscope. 2001 Jan;111(1):9-14.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11192906?tool=bestpractice.com
[9]Hoekman PK, Houlton JJ, Seiden AM. The utility of magnetic resonance imaging in the diagnostic evaluation of idiopathic olfactory loss. Laryngoscope. 2014 Feb;124(2):365-8.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23775878?tool=bestpractice.com
Essas 3 causas são responsáveis por mais de 50% dos pacientes.
Fisiopatologia
A perda olfatória pode ocorrer como uma perda neurossensorial, que ocorre após mudanças degenerativas nos receptores neuronais olfatórios ou no neuroepitélio na fenda olfatória.[10]Jafek BW, Hartman L, Eller PM, et al. Postviral olfactory dysfunction. Am J Rhinol. 1990 May;4(3):91-100. Também pode ocorrer como uma perda condutiva após uma obstrução ou inflamação dentro da cavidade nasal que impede o acesso de odorantes aos receptores olfatórios.
Tipos de perda olfatória
A perda pode ser completa (anosmia) ou parcial (hiposmia). Pode estar associada a percepções distorcidas de odor (disosmia) que estão relacionadas a estímulos reais de odorantes ambientais (parosmia) ou ocorrer espontaneamente (fantosmia).
Apresentação
Os pacientes podem apresentar queixas de perda do olfato e paladar ou somente perda de paladar, mas, à investigação, a função gustativa está intacta. Isso está relacionado à confusão habitual entre paladar e aroma. A sensação de paladar inclui salgado, azedo, doce, amargo e umami (saboroso).[11]Lindemann B, Ogiwara Y, Ninomiya Y. The discovery of umami. Chem Senses. 2002 Nov;27(9):843-4. A percepção do aroma é baseada em sensações olfativas, táteis e térmicas, assim como do paladar, com a sensação olfatória possivelmente sendo a mais importante. A perda da sensação olfatória torna os alimentos geralmente menos atraentes, algo que a maioria dos pacientes percebe rapidamente. No entanto, uma perda verdadeira mensurável do paladar é decididamente incomum.[7]Deems DA, Doty RL, Settle RG, et al. Smell and taste disorders, a study of 750 patients from the University of Pennsylvania Smell and Taste Center. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 1991;117:519-528.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2021470?tool=bestpractice.com
Tratamento
Para pacientes com perda olfatória devida a um processo inflamatório, a redução da inflamação e obstrução da cavidade nasal podem efetivamente restaurar a capacidade de olfato.[12]Kohli P, Naik AN, Farhood Z, et al. Olfactory outcomes after endoscopic sinus surgery for chronic rhinosinusitis: a meta-analysis. Otolaryngol Head Neck Surg. 2016 Dec;155(6):936-48.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27576679?tool=bestpractice.com
Infelizmente, na maioria dos casos de perda olfatória, nenhuma terapia específica está disponível. No entanto, os pacientes continuarão a buscar uma opinião médica até que sintam que uma investigação completa foi realizada e uma explicação detalhada foi fornecida.[13]Harris R, Davidson TM, Murphy C, et al. Clinical evaluation and symptoms of chemosensory impairment: 1000 consecutive cases from the nasal dysfunction clinic in San Diego. Am J Rhinol. 2006 Jan-Feb;20(1):101-8.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16539304?tool=bestpractice.com
Alguns dados sugerem que o treinamento olfatório pode aumentar o potencial de recuperação após uma perda olfatória pós-viral ou pós-traumática.[14]Konstantinidis I, Tsakiropoulou E, Bekiaridou P, et al. Use of olfactory training in post-traumatic and postinfectious olfactory dysfunction. Laryngoscope. 2013 Dec;123(12):E85-90.[15]Pekala K, Chandra RK, Turner JH. Efficacy of olfactory training in patients with olfactory loss: a systematic review and meta-analysis. Int Forum Allergy Rhinol. 2016 Mar;6(3):299-307.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4783272
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26624966?tool=bestpractice.com
Sequelas adversas
Questões de segurança relacionadas à perda olfatória incluem a incapacidade de detectar vazamentos de gás, fogo ou alimentos estragados. Contudo, o impacto mais significativo para cada paciente é tipicamente a perda da qualidade de vida relacionada à ingestão de comidas e bebidas.[1]Hummel T, Whitcroft KL, Andrews P, et al. Position paper on olfactory dysfunction. Rhinology. 2016 Jan 31;56(1):1-30.
https://www.rhinologyjournal.com/Rhinology_issues/manuscript_1593.pdf
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28623665?tool=bestpractice.com
[16]Patel ZM, Holbrook EH, Turner JH, et al. International consensus statement on allergy and rhinology: olfaction. Int Forum Allergy Rhinol. 2022 Apr;12(4):327-680.
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/alr.22929
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/35373533?tool=bestpractice.com
Isso pode ser devastador. Em alguns casos, pode resultar em redução do apetite e ingestão nutricional inadequada e, em outros, causar aumento da ingestão oral e ganho de peso, uma vez que o paciente procura satisfação quimiossensorial. Essas consequências podem ter impacto negativo em condições clínicas associadas, como diabetes e hipertensão. Invariavelmente, os pacientes não obtêm muito apoio de amigos e familiares e, algumas vezes, até dos médicos.
Para a maioria dos pacientes que sofrem de perda olfatória, não há nenhuma terapia restauradora disponível (exceto no caso de a perda ser secundária à rinossinusite inflamatória). Portanto, embora a maioria dos pacientes se beneficie de aconselhamento sobre questões de segurança e métodos de intensificação de sabor, qualquer informação relacionada ao prognóstico se torna muito importante. Estudos sugerem que o prognóstico está relacionado mais à intensidade da perda inicial (confirmada com testes olfatórios objetivos), idade e sexo do paciente, tabagismo e presença de disosmia do que à etiologia da perda neurossensorial.[17]Hummel T, Lötsch J. Prognostic factors of olfactory dysfunction. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 2010 Apr;136(4):347-51.
http://archotol.jamanetwork.com/article.aspx?articleid=496192
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20403850?tool=bestpractice.com
[18]London B, Nabet B, Fisher AR, et al. Predictors of prognosis in patients with olfactory disturbance. Ann Neurol. 2008 Feb;63(2):159-66.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18058814?tool=bestpractice.com