A perda olfatória foi associada a uma variedade de causas e pode influenciar profundamente a qualidade de vida do paciente.
Epidemiologia
Estimativas sugerem que a incidência de perda olfatória na população adulta geral varia de 19%, em pessoas com mais de 20 anos de idade, até 25%, em pessoas com mais de 50 anos de idade.[1]Bramerson A, Johansson L, Ek L, et al. Prevalence of olfactory dysfunction: the Skovde population-based study. Laryngoscope. 2004 Apr;114(4):733-7.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15064632?tool=bestpractice.com
[2]Murphy C, Schubert CR, Cruickshanks KJ, et al. Prevalence of olfactory impairment in older adults. JAMA. 2002 Nov 13;288(8):2307-12.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12425708?tool=bestpractice.com
[3]Hoffman HJ, Ishii EK, MacTurk RH. Age-related changes in the prevalence of smell / taste problems among the United States adult population: results of the 1994 disability supplement to the National Health Interview Survey. Ann NY Acad Sci. 1998 Nov 30;855:716-22.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/9929676?tool=bestpractice.com
A prevalência aumenta com a idade e com o sexo masculino, chegando a 63% em pessoas com mais de 80 anos de idade.[2]Murphy C, Schubert CR, Cruickshanks KJ, et al. Prevalence of olfactory impairment in older adults. JAMA. 2002 Nov 13;288(8):2307-12.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12425708?tool=bestpractice.com
Em uma amostra transversal de adultos norte-americanos com idade avançada (idade média de 68 anos), aproximadamente 22% não conseguiram identificar quatro ou mais odores usando uma tarefa validada de identificação de odores.[4]Pinto JM, Schumm LP, Wroblewski KE, et al. Racial disparities in olfactory loss among older adults in the United States. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2014 Mar;69(3):323-9.
https://www.doi.org/10.1093/gerona/glt063
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23689829?tool=bestpractice.com
Afro-americanos e hispânicos com idade avançada apresentaram maior probabilidade de sofrer de disfunção olfatória.[4]Pinto JM, Schumm LP, Wroblewski KE, et al. Racial disparities in olfactory loss among older adults in the United States. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2014 Mar;69(3):323-9.
https://www.doi.org/10.1093/gerona/glt063
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23689829?tool=bestpractice.com
Etiologia
Em pacientes que se apresentam primariamente em decorrência de perda do olfato, as etiologias identificadas com maior frequência incluem infecção viral prévia do trato respiratório superior, trauma cranioencefálico e inflamação crônica subjacente dos seios nasais.[5]Deems DA, Doty RL, Settle RG, et al. Smell and taste disorders, a study of 750 patients from the University of Pennsylvania Smell and Taste Center. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 1991;117:519-528.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2021470?tool=bestpractice.com
[6]Seiden AM, Duncan HJ. The diagnosis of a conductive olfactory loss. Laryngoscope. 2001 Jan;111(1):9-14.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11192906?tool=bestpractice.com
[7]Hoekman PK, Houlton JJ, Seiden AM. The utility of magnetic resonance imaging in the diagnostic evaluation of idiopathic olfactory loss. Laryngoscope. 2014 Feb;124(2):365-8.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23775878?tool=bestpractice.com
Essas 3 causas são responsáveis por mais de 50% dos pacientes.
Fisiopatologia
A perda olfatória pode ocorrer como uma perda neurossensorial, que ocorre após mudanças degenerativas nos receptores neuronais olfatórios ou no neuroepitélio na fenda olfatória.[8]Jafek BW, Hartman L, Eller PM, et al. Postviral olfactory dysfunction. Am J Rhinol. 1990 May;4(3):91-100. Também pode ocorrer como uma perda condutiva após uma obstrução ou inflamação dentro da cavidade nasal que impede o acesso de odorantes aos receptores olfatórios.
Tipos de perda olfatória
A perda pode ser completa (anosmia) ou parcial (hiposmia). Pode estar associada a percepções distorcidas de odor (disosmia) que estão relacionadas a estímulos reais de odorantes ambientais (parosmia) ou ocorrer espontaneamente (fantosmia).
Apresentação
Os pacientes podem apresentar queixas de perda do olfato e paladar ou somente perda de paladar, mas, à investigação, a função gustativa está intacta. Isso está relacionado à confusão habitual entre paladar e aroma. A sensação de paladar inclui salgado, azedo, doce, amargo e umami (saboroso).[9]Lindemann B, Ogiwara Y, Ninomiya Y. The discovery of umami. Chem Senses. 2002 Nov;27(9):843-4. A percepção do aroma é baseada em sensações olfativas, táteis e térmicas, assim como do paladar, com a sensação olfatória possivelmente sendo a mais importante. A perda da sensação olfatória torna os alimentos geralmente menos atraentes, algo que a maioria dos pacientes percebe rapidamente. No entanto, uma perda verdadeira mensurável do paladar é decididamente incomum.[5]Deems DA, Doty RL, Settle RG, et al. Smell and taste disorders, a study of 750 patients from the University of Pennsylvania Smell and Taste Center. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 1991;117:519-528.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2021470?tool=bestpractice.com
Tratamento
É importante determinar se a perda é decorrente de um processo inflamatório, uma vez que essa é a única situação na qual a terapia será eficaz. Infelizmente, na maioria dos casos de perda olfatória, nenhuma terapia específica está disponível. No entanto, os pacientes continuarão a buscar uma opinião médica até que sintam que uma investigação completa foi realizada e uma explicação detalhada foi fornecida.[10]Harris R, Davidson TM, Murphy C, et al. Clinical evaluation and symptoms of chemosensory impairment: 1000 consecutive cases from the nasal dysfunction clinic in San Diego. Am J Rhinol. 2006 Jan-Feb;20(1):101-8.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16539304?tool=bestpractice.com
Alguns dados sugerem que o treinamento olfatório pode aumentar o potencial de recuperação após uma perda olfatória pós-viral ou pós-traumática.[11]Konstantinidis I, Tsakiropoulou E, Bekiaridou P, et al. Use of olfactory training in post-traumatic and postinfectious olfactory dysfunction. Laryngoscope. 2013 Dec;123(12):E85-90.[12]Pekala K, Chandra RK, Turner JH. Efficacy of olfactory training in patients with olfactory loss: a systematic review and meta-analysis. Int Forum Allergy Rhinol. 2016 Mar;6(3):299-307.
https://www.doi.org/10.1002/alr.21669
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26624966?tool=bestpractice.com
Sequelas adversas
Questões de segurança relacionadas à perda olfatória incluem a incapacidade de detectar vazamentos de gás, fogo ou alimentos estragados. Contudo, o impacto mais significativo para cada paciente é tipicamente a perda da qualidade de vida relacionada à ingestão de comidas e bebidas. Isso pode ser devastador. Em alguns casos, pode resultar em apetite reduzido e ingestão nutricional inadequada e, em outros, pode causar aumento da ingestão oral e ganho de peso, uma vez que o paciente procura satisfação quimiossensorial. Essas consequências podem ter um impacto negativo em condições clínicas associadas, como diabetes e hipertensão. Invariavelmente, os pacientes não obtêm muita simpatia de amigos e familiares, e algumas vezes até de seus médicos.
Para a maioria dos pacientes que sofrem de perda olfativa, não há nenhuma terapia restauradora disponível (exceto no caso de a perda ser secundária à rinossinusite inflamatória). Portanto, enquanto a maioria dos pacientes se beneficia de aconselhamento sobre questões de segurança e métodos de intensificação de sabor, qualquer informação relacionada ao prognóstico se torna muito importante. Estudos sugerem que o prognóstico está relacionado mais à intensidade da perda inicial, idade e ao sexo do paciente, tabagismo e presença de disosmia, que à etiologia da perda sensorial.[13]Hummel T, Lötsch J. Prognostic factors of olfactory dysfunction. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 2010 Apr;136(4):347-51.
http://archotol.jamanetwork.com/article.aspx?articleid=496192
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20403850?tool=bestpractice.com
[14]London B, Nabet B, Fisher AR, et al. Predictors of prognosis in patients with olfactory disturbance. Ann Neurol. 2008 Feb;63(2):159-66.
https://www.doi.org/10.1002/ana.21293
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18058814?tool=bestpractice.com