A perda olfatória foi associada a uma variedade de causas e pode influenciar profundamente a qualidade de vida do paciente.
Epidemiologia
Estima-se que a disfunção olfatória afete aproximadamente 22% da população em geral; no entanto, as taxas de prevalência estimadas variam significativamente de acordo com as técnicas de avaliação utilizadas, as definições de comprometimento e a população amostrada.[1]Whitcroft KL, Altundag A, Balungwe P, et al. Position paper on olfactory dysfunction: 2023. Rhinology. 2023 Oct 1;61(33):1-108.
https://www.rhinologyjournal.com/Abstract.php?id=3097
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/37454287?tool=bestpractice.com
[2]Desiato VM, Levy DA, Byun YJ, et al. The prevalence of olfactory dysfunction in the general population: a systematic review and meta-analysis. Am J Rhinol Allergy. 2021 Mar;35(2):195-205.
https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/1945892420946254
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32746612?tool=bestpractice.com
A prevalência de deficiência olfatória aumenta com a idade e o sexo masculino; algum grau de disfunção olfatória pode estar presente em mais de 50% dos adultos com mais de 65 anos.[1]Whitcroft KL, Altundag A, Balungwe P, et al. Position paper on olfactory dysfunction: 2023. Rhinology. 2023 Oct 1;61(33):1-108.
https://www.rhinologyjournal.com/Abstract.php?id=3097
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/37454287?tool=bestpractice.com
[3]Graves AB, Bowen JD, Rajaram L, et al. Impaired olfaction as a marker for cognitive decline: interaction with apolipoprotein E epsilon4 status. Neurology. 1999 Oct 22;53(7):1480-7.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10534255?tool=bestpractice.com
[4]Pinto JM, Wroblewski KE, Kern DW, et al. The rate of age-related olfactory decline among the general population of older U.S. adults. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2015 Nov;70(11):1435-41.
https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC4715242
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26253908?tool=bestpractice.com
[5]Seubert J, Laukka EJ, Rizzuto D, et al. Prevalence and correlates of olfactory dysfunction in old age: a population-based study. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2017 Aug;72(8):1072-9.
https://academic.oup.com/biomedgerontology/article/72/8/1072/3746132
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28444135?tool=bestpractice.com
Em uma amostra transversal de adultos americanos com idade média de 68 anos, aproximadamente 22% não conseguiram identificar quatro ou mais odores usando uma tarefa de identificação de odores validada.[6]Pinto JM, Schumm LP, Wroblewski KE, et al. Racial disparities in olfactory loss among older adults in the United States. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2014 Mar;69(3):323-9.
https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC3976135
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23689829?tool=bestpractice.com
Afro-americanos e hispano-americanos mais velhos tinham maior probabilidade de sofrer de disfunção olfatória relacionada à idade do que os norte-americanos brancos.[6]Pinto JM, Schumm LP, Wroblewski KE, et al. Racial disparities in olfactory loss among older adults in the United States. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2014 Mar;69(3):323-9.
https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC3976135
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23689829?tool=bestpractice.com
As estimativas de prevalência de disfunção olfatória são geralmente maiores quando ferramentas psicofísicas (objetivas), em vez de técnicas de avaliação subjetiva, são usadas para avaliar a disfunção olfatória.[1]Whitcroft KL, Altundag A, Balungwe P, et al. Position paper on olfactory dysfunction: 2023. Rhinology. 2023 Oct 1;61(33):1-108.
https://www.rhinologyjournal.com/Abstract.php?id=3097
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/37454287?tool=bestpractice.com
[4]Pinto JM, Wroblewski KE, Kern DW, et al. The rate of age-related olfactory decline among the general population of older U.S. adults. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2015 Nov;70(11):1435-41.
https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC4715242
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26253908?tool=bestpractice.com
[5]Seubert J, Laukka EJ, Rizzuto D, et al. Prevalence and correlates of olfactory dysfunction in old age: a population-based study. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2017 Aug;72(8):1072-9.
https://academic.oup.com/biomedgerontology/article/72/8/1072/3746132
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28444135?tool=bestpractice.com
[7]Hannum ME, Ramirez VA, Lipson SJ, et al. Objective sensory testing methods reveal a higher prevalence of olfactory loss in COVID-19-positive patients compared to subjective methods: a systematic review and meta-analysis. Chem Senses. 2020 Dec 5;45(9):865-74.
https://academic.oup.com/chemse/article/45/9/865/5912953
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/33245136?tool=bestpractice.com
Disfunção olfatória grave ou perda olfatória completa (anosmia) é relativamente incomum na população em geral. As estimativas de prevalência geralmente variam de aproximadamente 1% a 5% da população em geral.[8]Pinto JM, Kern DW, Wroblewski KE, et al. Sensory function: insights from Wave 2 of the National Social Life, Health, and Aging Project. J Gerontol B Psychol Sci Soc Sci. 2014 Nov;69 Suppl 2(suppl 2):S144-53.
https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC4303092
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25360015?tool=bestpractice.com
[9]Landis BN, Konnerth CG, Hummel T. A study on the frequency of olfactory dysfunction. Laryngoscope. 2004 Oct;114(10):1764-9.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15454769?tool=bestpractice.com
Pandemia de COVID-19
A pandemia global de COVID-19 impactou significativamente as taxas de prevalência de disfunção olfatória, criando uma coorte adicional de pessoas afetadas por comprometimento agudo e pós-infeccioso ou perda da função olfatória.[1]Whitcroft KL, Altundag A, Balungwe P, et al. Position paper on olfactory dysfunction: 2023. Rhinology. 2023 Oct 1;61(33):1-108.
https://www.rhinologyjournal.com/Abstract.php?id=3097
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/37454287?tool=bestpractice.com
Revisões sistemáticas e estudos de coorte relataram prevalência de disfunção olfatória entre 48% e 86% em pacientes com COVID-19.[10]Saniasiaya J, Islam MA, Abdullah B. Prevalence of olfactory dysfunction in coronavirus disease 2019 (COVID-19): a meta-analysis of 27,492 patients. Laryngoscope. 2021 Apr;131(4):865-78.
https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC7753439
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/33219539?tool=bestpractice.com
[11]Rocke J, Hopkins C, Philpott C, et al. Is loss of sense of smell a diagnostic marker in COVID-19: systematic review and meta-analysis. Clin Otolaryngol. 2020 Nov;45(6):914-22.
https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC7436734
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32741085?tool=bestpractice.com
[12]Lechien JR, Chiesa-Estomba CM, De Siati DR, et al. Olfactory and gustatory dysfunctions as a clinical presentation of mild-to-moderate forms of the coronavirus disease (COVID-19): a multicenter European study. Eur Arch Otorhinolaryngol. 2020 Aug;277(8):2251-61.
https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC7134551
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32253535?tool=bestpractice.com
A prevalência de disfunção quimiossensorial em pacientes com COVID-19 parece diferir entre populações e etnias.[13]von Bartheld CS, Hagen MM, Butowt R. Prevalence of chemosensory dysfunction in COVID-19 patients: a systematic review and meta-analysis reveals significant ethnic differences. ACS Chem Neurosci. 2020 Oct 7;11(19):2944-61.
https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC7571048
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32870641?tool=bestpractice.com
[14]von Bartheld CS, Wang L. Prevalence of olfactory dysfunction with the omicron variant of SARS-CoV-2: a Systematic review and meta-analysis. Cells. 2023 Jan 28;12(3).
https://www.mdpi.com/2073-4409/12/3/430
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/36766771?tool=bestpractice.com
[15]von Bartheld CS, Hagen MM, Butowt R. The D614G virus mutation enhances anosmia in COVID-19 patients: evidence from a systematic review and meta-analysis of studies from South Asia. ACS Chem Neurosci. 2021 Oct 6;12(19):3535-49.
https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC8482322
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/34533304?tool=bestpractice.com
Etiologia
Em pacientes que se apresentam primariamente em decorrência de perda do olfato, as etiologias identificadas com maior frequência incluem infecção viral prévia do trato respiratório superior, trauma cranioencefálico e inflamação crônica subjacente dos seios nasais.[16]Deems DA, Doty RL, Settle RG, et al. Smell and taste disorders, a study of 750 patients from the University of Pennsylvania Smell and Taste Center. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 1991;117:519-528.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2021470?tool=bestpractice.com
[17]Seiden AM, Duncan HJ. The diagnosis of a conductive olfactory loss. Laryngoscope. 2001 Jan;111(1):9-14.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11192906?tool=bestpractice.com
[18]Hoekman PK, Houlton JJ, Seiden AM. The utility of magnetic resonance imaging in the diagnostic evaluation of idiopathic olfactory loss. Laryngoscope. 2014 Feb;124(2):365-8.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23775878?tool=bestpractice.com
Essas 3 causas são responsáveis por mais de 50% dos pacientes.
Fisiopatologia
A perda olfatória pode ocorrer como uma perda neurossensorial, que ocorre após mudanças degenerativas nos receptores neuronais olfatórios ou no neuroepitélio na fenda olfatória.[19]Jafek BW, Hartman L, Eller PM, et al. Postviral olfactory dysfunction. Am J Rhinol. 1990 May;4(3):91-100. Também pode ocorrer como uma perda condutiva após uma obstrução ou inflamação dentro da cavidade nasal que impede o acesso de odorantes aos receptores olfatórios.
Tipos de perda olfatória
A perda pode ser completa (anosmia) ou parcial (hiposmia). Pode estar associada a percepções distorcidas de odor (disosmia) que estão relacionadas a estímulos reais de odorantes ambientais (parosmia) ou ocorrer espontaneamente (fantosmia).
Apresentação
Os pacientes podem apresentar queixas de perda do olfato e paladar ou somente perda de paladar, mas, à investigação, a função gustativa está intacta. Isso está relacionado à confusão habitual entre paladar e aroma. A sensação de paladar inclui salgado, azedo, doce, amargo e umami (saboroso).[20]Lindemann B, Ogiwara Y, Ninomiya Y. The discovery of umami. Chem Senses. 2002 Nov;27(9):843-4. A percepção do aroma é baseada em sensações olfativas, táteis e térmicas, assim como do paladar, com a sensação olfatória possivelmente sendo a mais importante. A perda da sensação olfatória torna os alimentos geralmente menos atraentes, algo que a maioria dos pacientes percebe rapidamente. No entanto, uma perda verdadeira mensurável do paladar é decididamente incomum.[16]Deems DA, Doty RL, Settle RG, et al. Smell and taste disorders, a study of 750 patients from the University of Pennsylvania Smell and Taste Center. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 1991;117:519-528.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2021470?tool=bestpractice.com
Tratamento
Para pacientes com perda olfatória devida a um processo inflamatório, a redução da inflamação e obstrução da cavidade nasal podem efetivamente restaurar a capacidade de olfato.[21]Kohli P, Naik AN, Farhood Z, et al. Olfactory outcomes after endoscopic sinus surgery for chronic rhinosinusitis: a meta-analysis. Otolaryngol Head Neck Surg. 2016 Dec;155(6):936-48.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27576679?tool=bestpractice.com
Infelizmente, na maioria dos casos de perda olfatória, nenhuma terapia específica está disponível. No entanto, os pacientes continuarão a buscar uma opinião médica até que sintam que uma investigação completa foi realizada e uma explicação detalhada foi fornecida.[22]Harris R, Davidson TM, Murphy C, et al. Clinical evaluation and symptoms of chemosensory impairment: 1000 consecutive cases from the nasal dysfunction clinic in San Diego. Am J Rhinol. 2006 Jan-Feb;20(1):101-8.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16539304?tool=bestpractice.com
Alguns dados sugerem que o treinamento olfatório pode aumentar o potencial de recuperação após uma perda olfatória pós-viral ou pós-traumática.[23]Konstantinidis I, Tsakiropoulou E, Bekiaridou P, et al. Use of olfactory training in post-traumatic and postinfectious olfactory dysfunction. Laryngoscope. 2013 Dec;123(12):E85-90.[24]Pekala K, Chandra RK, Turner JH. Efficacy of olfactory training in patients with olfactory loss: a systematic review and meta-analysis. Int Forum Allergy Rhinol. 2016 Mar;6(3):299-307.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4783272
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26624966?tool=bestpractice.com
Sequelas adversas
Questões de segurança relacionadas à perda olfatória incluem a incapacidade de detectar vazamentos de gás, fogo ou alimentos estragados. Contudo, o impacto mais significativo para cada paciente é tipicamente a perda da qualidade de vida relacionada à ingestão de comidas e bebidas.[1]Whitcroft KL, Altundag A, Balungwe P, et al. Position paper on olfactory dysfunction: 2023. Rhinology. 2023 Oct 1;61(33):1-108.
https://www.rhinologyjournal.com/Abstract.php?id=3097
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/37454287?tool=bestpractice.com
[25]Patel ZM, Holbrook EH, Turner JH, et al. International consensus statement on allergy and rhinology: olfaction. Int Forum Allergy Rhinol. 2022 Apr;12(4):327-680.
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/alr.22929
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/35373533?tool=bestpractice.com
Isso pode ser devastador. Em alguns casos, pode resultar em redução do apetite e ingestão nutricional inadequada e, em outros, causar aumento da ingestão oral e ganho de peso, uma vez que o paciente procura satisfação quimiossensorial. Essas consequências podem ter impacto negativo em condições clínicas associadas, como diabetes e hipertensão. Invariavelmente, os pacientes não obtêm muito apoio de amigos e familiares e, algumas vezes, até dos médicos.
Para a maioria dos pacientes que sofrem de perda olfatória, não há nenhuma terapia restauradora disponível (exceto no caso de a perda ser secundária à rinossinusite inflamatória). Portanto, embora a maioria dos pacientes se beneficie de aconselhamento sobre questões de segurança e métodos de intensificação de sabor, qualquer informação relacionada ao prognóstico se torna muito importante. Estudos sugerem que o prognóstico está relacionado mais à intensidade da perda inicial (confirmada com testes olfatórios objetivos), idade e sexo do paciente, tabagismo e presença de disosmia do que à etiologia da perda neurossensorial.[26]Hummel T, Lötsch J. Prognostic factors of olfactory dysfunction. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 2010 Apr;136(4):347-51.
http://archotol.jamanetwork.com/article.aspx?articleid=496192
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20403850?tool=bestpractice.com
[27]London B, Nabet B, Fisher AR, et al. Predictors of prognosis in patients with olfactory disturbance. Ann Neurol. 2008 Feb;63(2):159-66.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18058814?tool=bestpractice.com