Avaliação de alcalose respiratória
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Resumo
A alcalose respiratória é um distúrbio ácido-básico sistêmico caracterizado por uma redução primária na pressão parcial de dióxido de carbono no sangue arterial (PaCO₂), que produz uma elevação no potencial hidrogeniônico (pH) acima de 7.45 e a consequente redução na concentração de bicarbonato (HCO₃-), como sistema tampão.[1]Arbus GS, Herbert LA, Levesque PR, et al. Characterization and clinical application of the "significance band" for acute respiratory alkalosis. N Engl J Med. 1969 Jan 16;280(3):117-23. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/5782512?tool=bestpractice.com Ela pode ocorrer como um distúrbio primário, uma anormalidade respiratória isolada na qual uma redução na PaCO₂ resulta do excesso de excreção de CO₂ alveolar em relação à produção de CO₂. A alcalose respiratória também pode ocorrer como compensação de um processo subjacente, como a acidose metabólica, ou como um componente separado de um distúrbio misto do equilíbrio ácido-básico, no qual a PaCO₂, o HCO₃- e o pH são determinados pelos efeitos combinados dos distúrbios do equilíbrio ácido-básico subjacentes.[2]Foster GT, Varizi ND, Sassoon CS. Respiratory alkalosis. Respir Care. 2001 Apr;46(4):384-91. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11262557?tool=bestpractice.com
A alcalose respiratória pode ser classificada em três categorias:
como um componente de processos de doenças
induzida acidentalmente
induzida deliberadamente (terapêutica)[3]Laffey JG, Kavanagh BP. Hypocapnia. N Engl J Med. 2002 Jul 4;347(1):43-53. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12097540?tool=bestpractice.com
A alcalose respiratória acidental se desenvolve como consequência de regulação inapropriada de ventilação mecânica ou associada à oxigenação por membrana extracorpórea.[3]Laffey JG, Kavanagh BP. Hypocapnia. N Engl J Med. 2002 Jul 4;347(1):43-53. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12097540?tool=bestpractice.com A alcalose respiratória ou hipocapnia terapêuticas foram aplicadas para tratar temporariamente a hipertensão intracraniana ou a hipertensão arterial pulmonar neonatal.[4]Allen CH, Ward JD. An evidence-based approach to management of increased intracranial pressure. Crit Care Clin. 1998 Jul;14(3):485-95. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/9700443?tool=bestpractice.com [5]Walsh-Sukys MC, Tyson JE, Wright LL, et al. Persistent pulmonary hypertension of the newborn in the era before nitric oxide: practice variation and outcomes. Pediatrics. 2000 Jan;105(1 Pt 1):14-20. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10617698?tool=bestpractice.com
Epidemiologia
A alcalose respiratória é comum. Dois grandes estudos de pacientes hospitalizados dos EUA que avaliaram amostras de sangue arterial mostraram uma prevalência de alcalose respiratória de 22.5% a 44.7%.[6]Hodgkin JE, Soeprono FF, Chan DM. Incidence of metabolic alkalemia in hospitalized patients. Crit Care Med. 1980 Dec;8(12):725-8. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/6778655?tool=bestpractice.com [7]Mazzara JT, Ayres SM, Grace WJ. Extreme hypocapnia in the critically ill patient. Am J Med. 1974 Apr;56(4):450-6. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/4818411?tool=bestpractice.com Como o sangue arterial foi colhido em vários momentos durante a evolução hospitalar dos pacientes, esses dados provavelmente representam exemplos de alcalose respiratória de categorias distintas. Em um estudo italiano, entre as amostras de sangue arterial obtidas de 110 pacientes consecutivos no momento da internação hospitalar, 24% apresentaram alcalose respiratória.[8]Palange P, Carlone S, Galassetti P, et al. Incidence of acid-base and electrolyte disturbances in a general hospital: a study of 110 consecutive admissions. Recenti Prog Med. 1990 Dec;81(12):788-91. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2075281?tool=bestpractice.com
A ocorrência de alcalose respiratória acidentalmente induzida pode ser inferida a partir de um estudo retrospectivo de pacientes intubados com queimaduras (146 pessoas) que receberam ventilação mecânica para o transporte aeromédico. A frequência de alcalose respiratória foi de 19%, na qual 39% dos pacientes receberam controle volume-assistido e 17% dos pacientes com ventilação obrigatória intermitente apresentaram hipocapnia.[9]Barillo DJ, Dickerson EE, Cioffi WG, et al. Pressure-controlled ventilation for the long-range aeromedical transport of patients with burns. J Burn Care Rehabil. 1997 May-Jun;18(3):200-5. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/9169941?tool=bestpractice.com [10]Hooper RG, Browning M. Acid-base changes and ventilator mode during maintenance ventilation. Crit Care Med. 1985 Jan;13(1):44-5. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/3871184?tool=bestpractice.com No controle volume-assistido (ou controle de volume), os pacientes podem receber respirações controladas ou assistidas. Quando o paciente ativa o ventilador, uma respiração de duração e magnitude idênticas é fornecida pela máquina. Na ventilação intermitente obrigatória, as respirações da máquina são interpostas entre as respirações espontâneas do paciente. Além disso, outro estudo relatou que a maioria dos pacientes submetidos a derivação cardiopulmonar (86 pessoas) estava hipocápnica durante a fase de reaquecimento, e que esse distúrbio persistiu em muitos até o momento de chegada à unidade de terapia intensiva.[11]Millar SM, Alston RP, Andrews PJ, et al. Cerebral hypoperfusion in immediate postoperative period following coronary artery bypass grafting, heart valve, and abdominal aortic surgery. Br J Anesth. 2001 Aug;87(2):229-36. http://bja.oxfordjournals.org/content/87/2/229.full http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11493494?tool=bestpractice.com O estudo não relatou a frequência real de hipocapnia.[11]Millar SM, Alston RP, Andrews PJ, et al. Cerebral hypoperfusion in immediate postoperative period following coronary artery bypass grafting, heart valve, and abdominal aortic surgery. Br J Anesth. 2001 Aug;87(2):229-36. http://bja.oxfordjournals.org/content/87/2/229.full http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11493494?tool=bestpractice.com
Tradicionalmente, a alcalose respiratória ou hipocapnia terapêuticas têm sido aplicadas para tratar temporariamente a hipertensão intracraniana.[4]Allen CH, Ward JD. An evidence-based approach to management of increased intracranial pressure. Crit Care Clin. 1998 Jul;14(3):485-95. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/9700443?tool=bestpractice.com No entanto, o benefício da hipocapnia terapêutica ainda não foi comprovado, e ela deve ser limitada a casos de hipertensão intracraniana que oferecem risco de vida.[12]Curley G, Kavanagh BP, Laffey JG. Hypocapnia and the injured brain: more harm than benefit. Crit Care Med. 2010 May;38(5):1348-59. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20228681?tool=bestpractice.com [13]Badjatia N, Carney N, Crocco TJ, et al; Brain Trauma Foundation; BTF Center for Guidelines Management. Guidelines for prehospital management of traumatic brain injury 2nd edition. Prehosp Emerg Care. 2008;12(suppl 1):S1-52. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18203044?tool=bestpractice.com Sua aplicação na hipertensão intracraniana ou na hipertensão pulmonar neonatal não mostrou melhorar a sobrevida e, portanto, seu uso deve ser cuidadosamente limitado.[3]Laffey JG, Kavanagh BP. Hypocapnia. N Engl J Med. 2002 Jul 4;347(1):43-53. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12097540?tool=bestpractice.com [5]Walsh-Sukys MC, Tyson JE, Wright LL, et al. Persistent pulmonary hypertension of the newborn in the era before nitric oxide: practice variation and outcomes. Pediatrics. 2000 Jan;105(1 Pt 1):14-20. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10617698?tool=bestpractice.com [14]Rusnak M, Janciak I, Majdan M, et al. Severe traumatic brain injury in Austria VI: effects of guideline-based management. Wien Klin Wochenschr. 2007 Feb;119(1-2):64-71. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17318752?tool=bestpractice.com Com a disponibilidade de óxido nítrico e de outros vasodilatadores, espera-se que a aplicação da hipocapnia em hipertensão pulmonar neonatal diminua.[15]Latini G, Del Vecchio A, De Felice C, et al. Persistent pulmonary hypertension of the newborn: therapeutical approach. Mini Rev Med Chem. 2008 Dec;8(14):1507-13. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19075808?tool=bestpractice.com [16]Kelly LE, Ohlsson A, Shah PS. Sildenafil for pulmonary hypertension in neonates. Cochrane Database Syst Rev. 2017 Aug 4;(8):CD005494. http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD005494.pub4/full http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28777888?tool=bestpractice.com
Fisiologia
Na alcalose respiratória, a supressão inicial do centro respiratório e a redução da concentração de bicarbonato no plasma atenuam o aumento do pH. O excesso de excreção de CO₂ (hiperventilação alveolar) e a PACO₂ arterial mais baixa (hipocapnia) resultante inibem o centro respiratório por meio de loop de feedback negativo. O efeito sistêmico da redução inicial na pressão parcial de dióxido de carbono no sangue arterial (PaCO₂) pode ser descrito pela equação de Henderson-Hasselbalch modificada, conforme a seguir:
(H+)=24(PaCO₂/HCO₃-)
A redução na PaCO₂ reduz a razão PaCO₂/HCO₃-, diminuindo assim a concentração de H+, o que resulta em alcalemia. A redução na pressão parcial de dióxido de carbono (pCO₂) também causa uma taxa reduzida de secreção de H+ e uma taxa elevada de excreção de bicarbonato pelos túbulos renais como um sistema tampão intracelular. Dentro das células dos túbulos renais, o CO₂, sob a influência da enzima anidrase carbônica, combina-se com a H₂O para formar ácido carbônico (H₂CO₃), o qual por sua vez se dissocia em HCO₃- e H+. A alcalemia inibe a atividade da anidrase carbônica, resultando na secreção reduzida de H+ para o túbulo renal.[17]Jacobson HR. Effects of CO2 and acetazolamide on bicarbonate and fluid transport in rabbit proximal tubules. Am J Physiol. 1981 Jan;240(1):F54-62. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/6779638?tool=bestpractice.com A reabsorção de HCO₃- depende da combinação com H+ para formar ácido carbônico, o qual é dissociado mais tarde em H₂O e CO₂. Devido à concentração reduzida de H+ no túbulo renal, não há uma concentração adequada de H+ para reagir com o HCO₃- filtrado. A reabsorção de HCO₃- diminui, resultando em uma concentração reduzida de HCO₃- no plasma e na atenuação do pH.
De maneira similar, a abordagem psicoquímica (diferença de íons fortes de Stewart) da análise ácido-base aponta que a hiperventilação aguda e queda da PaCO₂ lentamente causam compensação renal hiperclorêmica. A hipercloremia está relacionada à excreção de sódio filtrado e potássio com bicarbonatos, pois a secreção de hidrogênio diminui nos túbulos distal e proximal. Quando a diferença de íons fortes do plasma diminui, a concentração de bicarbonato do plasma cai, resultando na normalização do pH sérico. Tanto a abordagem tradicional quanto a de Stewart ilustram que a compensação renal é causada pela mudança na razão de PaCO₂ para bicarbonato (veja acima a equação de Henderson-Hasselbalch modificada).[18]Seifter JL. Integration of acid-base and electrolyte disorders. N Engl J Med. 2014 Nov 6;371(19):1821-31. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25372090?tool=bestpractice.com
A alcalose respiratória pode se manifestar como aguda ou crônica. A alcalose respiratória aguda ocorre desde o início da hipocapnia por até 6 horas.[1]Arbus GS, Herbert LA, Levesque PR, et al. Characterization and clinical application of the "significance band" for acute respiratory alkalosis. N Engl J Med. 1969 Jan 16;280(3):117-23. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/5782512?tool=bestpractice.com A alcalose respiratória crônica com mecanismos compensatórios renais começa 6 horas depois do início da hipocapnia e se torna completa dentro de 2 a 5 dias.[1]Arbus GS, Herbert LA, Levesque PR, et al. Characterization and clinical application of the "significance band" for acute respiratory alkalosis. N Engl J Med. 1969 Jan 16;280(3):117-23. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/5782512?tool=bestpractice.com [19]Santra G, Paul R, Das S, et al. Hyperventilation of pregnancy presenting with flaccid quadriparesis due to hypokalaemia secondary to respiratory alkalosis. J Assoc Physicians India. 2014 Jun;62(6):536-8. https://www.japi.org/r28464a4/hyperventilation-of-pregnancy-presenting-with-flaccid-quadriparesis-due-to-hypokalaemia-secondary-to-respiratory-alkalosis http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25856925?tool=bestpractice.com [20]Berend K, de Vries AP, Gans RO. Physiological approach to assessment of acid-base disturbances. N Engl J Med. 2014 Oct 9;371(15):1434-45. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25295502?tool=bestpractice.com Na alcalose respiratória aguda, a relação entre a diminuição do HCO₃- sérico e a diminuição da PaCO₂ pode ser expressada como:
mudança em HCO₃- (mmol/L) = 0.1 x mudança na PaCO₂ (mmHg)
onde a diminuição do HCO₃- ocorre a partir de um valor normal de 24 mmol/L e a diminuição da PaCO₂ ocorre a partir de um valor normal de 40 mmHg. Por exemplo, uma diminuição aguda na PaCO₂ de 20 mmHg irá resultar em um HCO₃- sérico de aproximadamente 22 mmol/L: ou seja, uma diminuição de 2 mmol/L (0.1 x 20) em relação ao valor normal de 24 mmol/L do HCO₃- sérico. Um desvio significativo na concentração de HCO₃- sérico em relação ao valor predito sugere um distúrbio do equilíbrio ácido-básico, e não alcalose respiratória aguda isolada.
Na alcalose respiratória crônica, o HCO₃- sérico é reduzido ainda mais devido à supressão da secreção de H+ no túbulo renal e à reabsorção de HCO₃-. Portanto, a magnitude da diminuição na concentração de H+ é atenuada em maior grau que no estágio agudo. Na alcalose respiratória crônica, a relação entre a diminuição do HCO₃- sérico e a diminuição na PaCO₂ pode ser expressada como:[21]Gennari FJ, Goldstein MB, Schwartz WB. The nature of the renal adaptation to chronic hypocapnia. J Clin Invest. 1972 Jul;51(7):1722-30. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC292319 http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/5032522?tool=bestpractice.com [22]Krapf R, Beeler I, Hertner D, et al. Chronic respiratory alkalosis: the effect of sustained hyperventilation on renal regulation of acid-base equilibrium. N Engl J Med. 1991 May 16;324(20):1394-401. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/1902283?tool=bestpractice.com
mudança em HCO₃- (mmol/L) = 0.4 x mudança na PaCO₂ (mmHg)
Nesse caso, uma diminuição persistente na PaCO₂ de 20 mmHg reduzirá o HCO₃- sérico em 8 mmol/L em relação a seu nível normal de 24 mmol/L, resultando em um HCO₃- sérico de 16 mmol/L. Em pacientes com alcalose respiratória crônica isolada, o HCO₃- sérico raramente diminui para um nível abaixo de 12 a 14 mmol/L.[20]Berend K, de Vries AP, Gans RO. Physiological approach to assessment of acid-base disturbances. N Engl J Med. 2014 Oct 9;371(15):1434-45. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25295502?tool=bestpractice.com
A alcalose respiratória provoca elevação do lactato sérico aumentando discretamente a produção de lactato e diminuindo o clearance de lactato.[23]Eldridge F, Salzer J. Effect of respiratory alkalosis on blood lactate and pyruvate in humans. J Appl Physiol. 1967 Mar;22(3):461-8. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/6020228?tool=bestpractice.com [24]Druml W, Grimm G, Laggner AN, et al. Lactic acid kinetics in respiratory acidosis. Crit Care Med. 1991 Sep;19(9):1120-4. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/1884611?tool=bestpractice.com É interessante notar que, em um estudo pequeno, a alcalose respiratória induzida em atletas treinados através de hiperventilação voluntária mostrou atenuar o declínio do desempenho conforme medido pela intensidade máxima e potência em corridas curtas repetidas. Acredita-se que isso se deve ao retardo da acidose causado pela acidose láctica induzida por exercício.[25]Sakamoto A, Naito H, Chow CM. Hyperventilation as a strategy for improved repeated sprint performance. J Strength Cond Res. 2014 Apr;28(4):1119-26. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23838981?tool=bestpractice.com
A alcalose respiratória também altera a homeostase eletrolítica, separada de seus mecanismos compensatórios renais.
Potássio
Inicialmente, a hipercalemia ocorre devido ao aumento da atividade alfa-adrenérgica induzida por hiperventilação. Em seguida, ocorre hipocalemia em decorrência da alteração transcelular, da reabsorção renal reduzida e da bicarbonatúria. A bicarbonatúria aumenta a excreção renal de potássio.[26]Krapf R, Caduff P, Wagdi P, et al. Plasma potassium response to acute respiratory alkalosis. Kidney Int. 1995 Jan;47(1):217-24. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/7731149?tool=bestpractice.com [27]Sanchez MG, Finlayson DC. Dynamics of serum potassium change during acute respiratory alkalosis. Can Anaesth Soc J. 1978 Nov;25(6):495-8. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/31968?tool=bestpractice.com Em geral, a hipocalemia é leve, mas ela pode ser grave em gestantes em decorrência dos altos níveis de progesterona circulatória causando hiperventilação e alcalose respiratória. Um relato de caso descreveu um paciente com hipocalemia induzida por alcalose respiratória que provocou paralisia flácida.[19]Santra G, Paul R, Das S, et al. Hyperventilation of pregnancy presenting with flaccid quadriparesis due to hypokalaemia secondary to respiratory alkalosis. J Assoc Physicians India. 2014 Jun;62(6):536-8. https://www.japi.org/r28464a4/hyperventilation-of-pregnancy-presenting-with-flaccid-quadriparesis-due-to-hypokalaemia-secondary-to-respiratory-alkalosis http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25856925?tool=bestpractice.com
Fosfato
Na fase aguda, a hipofosfatemia pode estar relacionada à captação celular aumentada.[28]Brautbar N, Leibovici H, Massry SG. On the mechanism of hypophosphatemia during acute hyperventilation: evidence for increased muscle glycolysis. Miner Electrolyte Metab. 1983 Jan-Feb;9(1):45-50. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/6843518?tool=bestpractice.com [29]Hoppe A, Metler M, Berndt TJ. Effect of respiratory alkalosis on renal phosphate excretion. Am J Physiol. 1982 Nov;243(5):F471-5. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/6291407?tool=bestpractice.com De maneira inversa, a fase crônica está associada a hiperfosfatemia com hipocalcemia devido à resistência ao paratormônio.[30]Krapf R, Jaeger P, Hulter HN. Chronic respiratory alkalosis induces renal PTH-resistance, hyperphosphatemia, and hypocalcemia in humans. Kidney Int. 1992 Sep;42(3):727-34. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/1405350?tool=bestpractice.com
A broncoconstrição é uma manifestação proeminente das mudanças fisiológicas no pulmão.[31]Jamison JP, Glover PJ, Wallace WF. Comparison of the effects of inhaled ipratropium bromide and salbutamol on the bronchoconstrictor response to hypocapnic hyperventilation in normal subjects. Thorax. 1987 Oct;42(10):809-14. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC460957 http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2962333?tool=bestpractice.com [32]Rodriguez-Roisin R. Gas exchange abnormalities in asthma. Lung. 1990;168(Suppl):599-605. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2117169?tool=bestpractice.com [33]Bayindir O, Akpinar B, Ozbek U, et al. The hazardous effects of alveolar hypocapnia on lung mechanics during weaning from cardiopulmonary bypass. Perfusion. 2000 Jan;15(1):27-31. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10676865?tool=bestpractice.com Os efeitos na artéria pulmonar e as mudanças relacionadas ao pH na alcalose respiratória podem induzir a vasodilatação arterial pulmonar, a qual é usada comumente para tratar a hipertensão pulmonar neonatal persistente.[5]Walsh-Sukys MC, Tyson JE, Wright LL, et al. Persistent pulmonary hypertension of the newborn in the era before nitric oxide: practice variation and outcomes. Pediatrics. 2000 Jan;105(1 Pt 1):14-20. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10617698?tool=bestpractice.com [34]Fike CD, Hansen TN. The effect of alkalosis on hypoxia-induced vasoconstriction in lungs of newborn rabbits. Pediatr Res. 1989 Apr;25(4):383-8. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2726313?tool=bestpractice.com A taquicardia também é consistente com as mudanças fisiológicas inerentes na alcalose respiratória, e está relacionada ao aumento da atividade simpática e à hipocalemia.[26]Krapf R, Caduff P, Wagdi P, et al. Plasma potassium response to acute respiratory alkalosis. Kidney Int. 1995 Jan;47(1):217-24. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/7731149?tool=bestpractice.com [35]Samuelsson RG, Nagy G. Effects of respiratory alkalosis and acidosis on myocardial excitation. Acta Physiol Scand. 1976 Jun;97(2):158-65. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/949001?tool=bestpractice.com Pode ocorrer dor torácica por meio de vasoespasmo coronariano ou de redução no fornecimento de oxigênio ao miocárdio em decorrência de afinidade aumentada do O₂ à hemoglobina.[36]Neill WA, Hattenhauer M. Impairment of myocardial O2 supply due to hyperventilation. Circulation. 1975 Nov;52(5):854-8. http://circ.ahajournals.org/content/52/5/854.full.pdf+html http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/1175266?tool=bestpractice.com Dados também sugerem que a alcalose respiratória diminuiu significativamente o fluxo microcirculatório in vivo, conforme medido por microscopia confocal reflectante durante estados de hipocapnia sustentada (PaCO₂ 20.9 ± 2.9). Isto foi observado sem diminuição concomitante no débito cardíaco.[37]Morel J, Gergelé L, Dominé A, et al. The venous-arterial difference in CO2 should be interpreted with caution in case of respiratory alkalosis in healthy volunteers. J Clin Monit Comput. 2017 Aug;31(4):701-7. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27287759?tool=bestpractice.com Também foram relatadas arritmias ventriculares e atriais em alcalose respiratória aguda e crônica.[38]Wildenthal K, Fuller DS, Shapiro W. Paroxysmal atrial arrhythmias induced by hyperventilation. Am J Cardiol. 1968 Mar;21(3):436-41. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/5637848?tool=bestpractice.com [39]Hisano K, Matsuguchi T, Ootsubo H, et al. Hyperventilation-induced variant angina with ventricular tachycardia. Am Heart J. 1984 Aug;108(2):423-5. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/6464982?tool=bestpractice.com [40]Brown EB Jr, Miller F. Ventricular fibrillation following a rapid fall in alveolar carbon dioxide concentration. Am J Physiol.1952 Apr;169(1):56-60. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/14923862?tool=bestpractice.com
Sintomas gastrointestinais e hepáticos são observados na alcalose respiratória aguda (mas não na crônica). A alcalose respiratória aguda produz náuseas, vômitos e aumento da motilidade gastrointestinal.[41]Bharucha AE, Camilleri M, Ford MJ, et al. Hyperventilation alters colonic motor and sensory function: effects and mechanisms in humans. Gastroenterology. 1996 Aug;111(2):368-77. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/8690201?tool=bestpractice.com O mecanismo para o aumento do tônus cólico depende da presença de hipocapnia (e não da hiperventilação eucápnica), que parece ter um efeito direto no músculo liso do cólon.[42]Ford MJ, Camelleri MJ, Hanson RB, et al. Hyperventilation, central autonomic control, and colonic tone in humans. Gut. 1995 Oct;37(4):499-504. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1382900 http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/7489935?tool=bestpractice.com Os efeitos da hipocapnia no sistema nervoso central (SNC) e periférico ocorrem em um limiar de <20 mmHg para a PaCO₂.[43]Rafferty GF, Saisch GN, Gardner WN. Relation of hypocapnic symptoms to rate of fall of end-tidal PCO2 in normal subjects. Respir Med. 1992 Jul;86(4):335-40. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/1448588?tool=bestpractice.com Os sintomas incluem vertigem, tontura, ansiedade, euforia, falta de coordenação, esquecimento, alucinações e convulsão.[44]Perkin GD, Joseph R. Neurological manifestations of the hyperventilation syndrome. J R Soc Med. 1986 Aug;79(8):448-50. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1290412 http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/3761286?tool=bestpractice.com Sintomas somáticos unilaterais também foram relatados, incluindo crises parciais, enxaquecas ou sintomas semelhantes aos de acidente vascular cerebral (AVC). Os sintomas do SNC são iniciados por mudanças no pH (em vez de mudanças na PaCO₂), que reduzem o fluxo sanguíneo cerebral, causando isquemia, que por fim é responsável pelos sintomas neurológicos.[45]Gardner WN. The pathophysiology of hyperventilation disorders. Chest. 1996 Feb;109(2):516-34. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/8620731?tool=bestpractice.com As manifestações periféricas incluem tetania e parestesias. Essas manifestações neurológicas são mediadas por excitabilidade neural aumentada induzida por hiperventilação causada por hipocalcemia e, possivelmente, por hipofosfatemia.[45]Gardner WN. The pathophysiology of hyperventilation disorders. Chest. 1996 Feb;109(2):516-34. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/8620731?tool=bestpractice.com [46]Macefield G, Burke D. Paraesthesiae and tetany induced by voluntary hyperventilation: increased excitability of human cutaneous and motor axons. Brain. 1991 Feb;114 ( Pt 1B):527-40. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2004255?tool=bestpractice.com [47]Edmondson JW, Brashear RE, Li TK. Tetany: quantitative interrelationships between calcium and alkalosis. Am J Physiol. 1975 Apr;228(4):1082-6. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/236662?tool=bestpractice.com
Ao determinar se um segundo processo de equilíbrio ácido-básico primário coexiste com a alcalose respiratória, o pH é um fator essencial, pois os mecanismos compensatórios não restauram totalmente o pH. Desvios significativos da concentração de HCO₃- predita na alcalose respiratória aguda ou crônica indicam um segundo processo primário de equilíbrio ácido-básico. Observe que o HCO₃- sérico raramente diminui para um nível abaixo de 12 a 14 mmol/L na alcalose respiratória crônica isolada, e valores abaixo disso sugerem um componente independente de acidose metabólica.[48]Kaehny WD. Respiratory acid-base disorders. Med Clin North Am. 1983 Jul;67(4):915-28. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/6410136?tool=bestpractice.com Se a hipocapnia ocorrer com acidemia, uma alcalose respiratória primária está presente, se o grau de hipocapnia for maior que o esperado em resposta à acidose metabólica coexistente.
Diagnósticos diferenciais
comuns
- Embolia pulmonar
- Sepse e síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SRIS)
- Síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA)
- Pneumonia
- Choque cardiogênico
- Edema pulmonar
- Acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico
- AVC hemorrágico
- Superdosagem de salicilato
- Alcalose pseudorrespiratória
- Gestação
- Asma em adultos
- Asma em crianças
- Hipoxemia
- Cirrose
- Derivação cardiopulmonar
Incomuns
- Pneumotórax
- Meningite
- Encefalite
- Tumor cerebral
- Lesão cerebral traumática
- Ventilação mecânica
- Doença relacionada a grandes altitudes
- Transtorno de ansiedade generalizada
- Hipertensão arterial pulmonar idiopática
- Fibrose pulmonar intersticial
- Apneia central do sono
- Choque hipovolêmico
- Anemia grave
- Contusão pulmonar
- Hiperventilação neurogênica central
- Síndrome da hiperventilação
- Hiperpneia hipertérmica
- Doença cardíaca cianótica
- Hemoglobinopatia
- ECMO
- Insuficiência hepática fulminante
- Síndrome hepatopulmonar
- Hipertensão portopulmonar
- Nicotina, xantinas, catecolaminas, analépticos, agentes progestacionais
- Ansiedade situacional
Colaboradores
Autores
Brian Dang, MD
Fellow in Pulmonary Care and Critical Care
University of California
Irvine
Declarações
BD declares that he has no competing interests.
Catherine S. Sassoon, MD
Professor of Medicine
University of California
Irvine
CA
Declarações
CSS is a member of the editorial board of American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine. CSS is an author of a reference cited in this topic.
Agradecimentos
Dr Catherine S. Sassoon and Dr Brian Dang would like to gratefully acknowledge Dr Asad Qasim, Dr Wilson Yan, Dr Jeremy Murdock, and Dr Sterling L. Malish, previous contributors to this topic. AQ, WY, JM, and SLM declare that they have no competing interests.
Revisores
Feras Hawari, MD
Chief of Pulmonary and Critical Care
King Hussein Cancer Center
Amman
Jordan
Declarações
FH declares that he has no competing interests.
John G. Laffey, MD
Professor and Head
Department of Anesthesia
Galway University Hospitals
Galway
Ireland
Declarações
JGL is an author of a number of references cited in this topic.
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