Resumo
O derrame pericárdico está presente quando o fluido no espaço pericárdico excede a quantidade fisiológica (≤50 mL). No contexto clínico, o derrame pericárdico é relativamente comum. Pode ser detectado de maneira incidental em um exame de imagem cardíaco ou torácico, ou se manifestar em associação a uma doença cardíaca ou sistêmica.
A importância dos derrames se baseia em sua relação com um estado patológico subjacente e em seu potencial de afetar a hemodinâmica do paciente.
Epidemiologia
Dados da coorte de Framingham sugerem que o derrame pericárdico possa estar presente em até 6.5% da população adulta geral.[1] A prevalência aumenta com a idade, de <1% em pacientes com 20 a 30 anos para mais de 15% em pacientes com 80 anos ou mais. A maioria das pessoas que participaram do estudo apresentava pequenos derrames pleurais e nenhuma doença cardíaca reconhecível.[1]
No contexto clínico, a prevalência de derrame pericárdico depende da população de pacientes estudada. Durante um período de 6 anos, a prevalência anual média e a incidência de derrame pericárdico em um laboratório de ecocardiografia de um grande hospital italiano foi de 3% e 9%, respectivamente.[2] Em pacientes de alto risco no pronto-socorro, a prevalência de derrame pericárdico variou de 13% a 20%.[3]
Anatomia e fisiologia pericárdicas
O pericárdio normal consiste em componentes fibrosos e serosos. A camada fibrosa forma um saco que contém o coração e as raízes dos grandes vasos. A parte serosa é ainda dividida em uma camada aderente ao coração e à gordura epicárdica (epicárdio ou pericárdio visceral) e uma camada que reveste a superfície interna da camada fibrosa (pericárdio parietal). O espaço pericárdico entre o pericárdio visceral e o pericárdio parietal normalmente contém até 50 mL de fluido seroso. Um derrame pericárdico está presente quando o fluido acumulado no espaço pericárdico excede essa quantidade fisiológica.[4]
O pericárdio serve como barreira protetora, promove eficiência à função cardíaca e impede o deslocamento excessivo do coração.
Em condições normais, existe um volume pericárdico de reserva para acomodar alterações fisiológicas em condições de enchimento ventricular. Entretanto, se esse volume de reserva for ultrapassado, a pressão pericárdica aumentará rapidamente e limitará significativamente o enchimento cardíaco. O pericárdico relativamente inelástico é capaz de expandir-se em condições de estresse crônico, como na dilatação ventricular esquerda, ou em um derrame pericárdico de acúmulo lento. No entanto, uma vez que a relação pressão pericárdica-volume atinge seu estágio não complacente, a expansão é limitada, e pequenos aumentos no volume produzem uma drástica elevação da pressão pericárdica, prejudicando intensamente o enchimento ventricular.[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Diagrama mostrando a anatomia do pericárdio.Marchand P. Thorax. 1951;6:359-368 [Citation ends].
Classificação do derrame pericárdico
O derrame pericárdico pode ser classificado por:
Início (agudo ou subagudo x crônico [com duração de >3 meses])
Distribuição (circunferencial ou loculada)
Impacto hemodinâmico (com ou sem tamponamento cardíaco)
Composição (fluido seroso, sangue, raramente ar ou gás por infecções bacterianas)
Tamanho baseado em uma simples avaliação ecocardiográfica semiquantitativa.
O tamanho do derrame na ecocardiografia indica o volume de fluido pericárdico da seguinte forma:[4][5][6]
Trivial (visto apenas na sístole)
Pequeno (<10 mm), o que corresponde a 50-100 mL de fluido pericárdico
Moderado (10-20 mm), o que corresponde a 100-500 mL de fluido pericárdico
Grande (>20 mm), o que corresponde a >500 mL de fluido pericárdico
Muito grande (>25 mm); geralmente indica >700 mL de fluido pericárdico.
O desenvolvimento de um derrame pericárdico muitas vezes tem implicações importantes para o diagnóstico e/ou prognóstico da doença subjacente.[4]
Diagnósticos diferenciais
comuns
- Neoplasia maligna
- Pericardite viral
- Iatrogênica
- Idiopática
- Insuficiência cardíaca congestiva
- Uremia
Incomuns
- Pericardite bacteriana
- Pericardite tuberculosa
- Pericardite fúngica
- Doença de Chagas
- Lúpus eritematoso sistêmico
- Síndrome pós-infarto do miocárdio (fenômeno de Dressler)
- Induzida por medicamentos
- Amiloidose cardíaca
- Hipotireoidismo
- Síndrome da hiperestimulação ovariana
- Dissecção da aorta
- Trauma
- Exposição à radiação
Colaboradores
Autores
Edgar Argulian, MD, MPH
Assistant Professor
Department of Cardiology
Mount Sinai St Luke's Hospital
New York
NY
Declarações
EA is an author of one of the references cited in this topic. EA declares that he has no competing interests.
Birgit Vogel, MD
Cardiovascular Imaging Fellow
Mount Sinai St Luke's Hospital
New York
NY
Declarações
BV declares that she has no competing interests.
Agradecimentos
Dr Edgar Argulian and Dr Birgit Vogel would like to gratefully acknowledge Dr Rajdeep Khattar, Dr David Liff, and Dr Vasilis Babaliaros, the previous contributors to this topic, and Dr Oliver Ziff for his assistance with this topic.
Declarações
RK, DL, VB, and OZ declare that they have no competing interests.
Revisores
Stephen Archer, MD
Professor of Medicine
Section of Cardiology
Department of Medicine
University of Chicago
Division of Biological Science
Chicago
IL
Declarações
SA declares that he has no competing interests.
Shrilla Banerjee, MBChB, MD, MRCP
Consultant Cardiologist
East Surrey Hospital
Surrey and Sussex NHS Healthcare Trust
Redhill
Surrey
Heart Hospital
University College London Hospitals NHS Trust
London
UK
Declarações
SB declares that she has no competing interests.
Diretrizes
- Guidelines on the diagnosis and management of pericardial diseases
Mais Diretrizes
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