A síndrome da fadiga crônica/encefalomielite miálgica (SFC/EM) pode ser diferenciada das condições clínicas e psiquiátricas no diagnóstico diferencial da fadiga pela presença de fadiga debilitante por mais de 6 meses; combinações de disfunção cognitiva, dor em todo o corpo e sono não revigorante, que não restaura a função normal; e mal-estar após exercícios, em que o esforço físico ou outros estressores causam exacerbação desses sintomas com início imediato ou protelado por várias horas ou durante a noite
A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica a SFC/EM como uma doença neurológica.
Não existem testes diagnósticos objetivos, biomarcadores verificados, medicamentos curativos ou tratamentos para SFC/EM. Os objetivos primários do tratamento são manejar os sintomas e melhorar a capacidade funcional. O tratamento inicial deve ser individualizado com base nas queixas mais graves do paciente.
As incapacidades crônicas, mas flutuantes, exigem mudanças substanciais de estilo de vida, de forma a planejar com cuidado as atividades de cada dia, guardar energia para as tarefas mais importantes, programar períodos de repouso para evitar que os indivíduos fiquem sobrecarregados e melhorar a qualidade do sono.
Até 30.5% da população tem fadiga crônica.[1]van't Leven M, Zielhuis GA, van der Meer JW, et al. Fatigue and chronic fatigue syndrome-like complaints in the general population. Eur J Public Health. 2010 Jun;20(3):251-7.
https://academic.oup.com/eurpub/article/20/3/251/429061
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19689970?tool=bestpractice.com
Portanto, é necessário considerar de forma cuidadosa critérios diagnósticos e condições de exclusão na avaliação de um paciente com fadiga persistente e prolongada.
Existem vários critérios diagnósticos para SFC/EM no uso clínico comum. Há também variação e controvérsia no uso dos termos EM, SFC e EM/SFC (com frequência, mas nem sempre, usados de forma intercambiável pelos clínicos). Muitos pacientes consideram o nome "síndrome da fadiga crônica" muito simplista e pejorativo. O termo "encefalomielite miálgica" também é problemático, dada a limitada evidência de inflamação cerebral.
A SFC/EM é caracterizada por um início súbito ou gradual de fadiga incapacitante persistente, mal-estar pós-esforço (PEM, exaustão por esforço), sono não revigorante, disfunção cognitiva e autonômica, mialgia, artralgia, cefaleia, faringite e linfonodos doloridos (sem linfadenopatia palpável), com sintomas que duram pelo menos 6 meses.[2]Komaroff AL. Myalgic encephalomyelitis/chronic fatigue syndrome: a real illness. Ann Intern Med. 2015 Jun 16;162(12):871-2.
https://www.acpjournals.org/doi/10.7326/M15-0647
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26075760?tool=bestpractice.com
A fadiga não está relacionada a outras doenças clínicas ou psiquiátricas e os sintomas não melhoram com sono ou repouso.
As definições de SFC/EM evoluíram de um foco em fadiga e deficiência, conforme descrito nos critérios dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA, para PEM/exaustão por esforço na SFC/EM, conforme definido pelos critérios do Canadian Consensus Criteria e doença sistêmica de intolerância ao esforço (DSIE) introduzido em 2015 pela National Academy of Medicine dos EUA (então conhecido como Institute of Medicine [IOM]).[3]Fukuda K, Straus SE, Hickie I, et al. The chronic fatigue syndrome: a comprehensive approach to its definition and study. International Chronic Fatigue Syndrome Study Group. Ann Intern Med. 1994 Dec 15;121(12):953-9.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/7978722?tool=bestpractice.com
[4]Carruthers BM, Jain AK, De Meirleir KL, et al. Myalgic encephalomyelitis/chronic fatigue syndrome: clinical working case definition, diagnostic and treatment protocols. J Chron Fatigue S. 2003 Dec;11(1):7-115.
https://www.mefmaction.com/images/stories/Medical/ME-CFS-Consensus-Document.pdf
[5]Jason LA, Evans M, Porter N, et al. The development of a revised Canadian myalgic encephalomyelitis chronic fatigue syndrome case definition. Am J Biochem Biotechnol. 2010;6(2):120-35.
http://thescipub.com/pdf/10.3844/ajbbsp.2010.120.135
A DSIE foi definida com base em uma extensa revisão da literatura e foi apresentada como um termo alternativo para a SFC/EM para enfatizar que a disfunção envolve todo o corpo e que é agravada pelo esforço físico ou cognitivo e outros estressores.[6]Institute of Medicine of the National Academies. Beyond myalgic encephalomyelitis/chronic fatigue syndrome: redefining an illness. Feb 2015 [internet publication].
https://www.nap.edu/catalog/19012/beyond-myalgic-encephalomyelitischronic-fatigue-syndrome-redefining-an-illness
[7]Jason LA, Brown A, Evans M, et al. Contrasting chronic fatigue syndrome versus myalgic encephalomyelitis/chronic fatigue syndrome. Fatigue. 2013 Jun 1;1(3):168-83.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3728084/
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23914329?tool=bestpractice.com
O diagnóstico de DSIE requer fadiga incapacitante, PEM e sono não revigorante que são persistentes, moderados ou graves em intensidade e se apresentam pelo menos 50% do tempo, além de intolerância cognitiva ou ortostática com a mesma gravidade e frequência.[6]Institute of Medicine of the National Academies. Beyond myalgic encephalomyelitis/chronic fatigue syndrome: redefining an illness. Feb 2015 [internet publication].
https://www.nap.edu/catalog/19012/beyond-myalgic-encephalomyelitischronic-fatigue-syndrome-redefining-an-illness
A dor não foi considerada exclusiva da SFC/EM e, portanto, não foi incluída nos critérios de DSIE. O uso do termo DSIE não é atualmente disseminado, e dentro deste tópico a nomenclatura SFC/EM é usada. Estas três definições (CDC, Canadian Consensus Criteria e National Academy of Medicine/IOM) têm critérios compatíveis, que se concentram em mal-estar pós-esforço (PEM), incapacidade, sono, dor e cognição.[8]Jason LA, Evans M, Brown A, et al. Chronic fatigue syndrome versus sudden onset myalgic encephalomyelitis. J Prev Interv Community. 2015;43(1):62-77.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4295655/
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25584529?tool=bestpractice.com
[9]Jason LA, Brown A, Clyne E, et al. Contrasting case definitions for chronic fatigue syndrome, myalgic encephalomyelitis/chronic fatigue syndrome and myalgic encephalomyelitis. Eval Health Prof. 2012 Sep;35(3):280-304.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3658447/
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22158691?tool=bestpractice.com
O PEM é o aspecto mais característico da SFC/EM, de acordo com os critérios da National Academy of Medicine/IOM.[6]Institute of Medicine of the National Academies. Beyond myalgic encephalomyelitis/chronic fatigue syndrome: redefining an illness. Feb 2015 [internet publication].
https://www.nap.edu/catalog/19012/beyond-myalgic-encephalomyelitischronic-fatigue-syndrome-redefining-an-illness
[7]Jason LA, Brown A, Evans M, et al. Contrasting chronic fatigue syndrome versus myalgic encephalomyelitis/chronic fatigue syndrome. Fatigue. 2013 Jun 1;1(3):168-83.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3728084/
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23914329?tool=bestpractice.com
O PEM tem sido descrito como um grupo de sintomas após esforço mental ou físico, com duração de 24 horas ou mais. Os sintomas do PEM incluem fadiga, cefaleias, dores musculares, deficits cognitivos e insônia. Podem ocorrer mesmo após tarefas simples (por exemplo, caminhar ou manter uma conversa) e requer que as pessoas com SFC/EM façam mudanças significativas de estilo de vida, de forma a conservar os recursos físicos e a concentração mental; permanecendo, assim, competentes em ambientes ocupacionais, educacionais e sociais normais.[10]Jason LA, Evans M, So S, et al. Problems in defining post-exertional malaise. J Prev Interv Community. 2015;43(1):20-31.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4295644/
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25584525?tool=bestpractice.com
Os pacientes muitas vezes ficam limitados a algumas poucas horas por dia de atividades produtivas; o restante do tempo é passado em repouso, com recuperação lenta e parcial de pensamentos desorganizados, dor no corpo inteiro, mal-estar e outras características do estado de fadiga crônica. A consideração de "fadiga" como cansaço físico ou mental é muito simplista para englobar o escopo de comprometimento em SFC/EM e esconde uma inadequação no vocabulário de fadiga. Existe um forte viés para o vocabulário de doença viral aguda, como gripe (influenza) e poliomielite, pois estes foram considerados precedentes históricos da SFC/EM.[11]Sigurdsson B. Clinical findings six years after outbreak of Akureyri disease. Lancet. 1956 May 26;270(6926):766-7.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/13320872?tool=bestpractice.com
A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica a SFC/EM como uma doença neurológica.[12]World Health Organization. International classification of diseases 11th revision for mortality and morbidity statistics (ICD-11 MMS). 2018 [internet publication].
https://icd.who.int/browse11/l-m/en#/http://id.who.int/icd/entity/569175314