Avaliação da hipocalcemia

A hipocalcemia é um estado de desequilíbrio eletrolítico em que o nível de cálcio sérico circulante é baixo. Na hipocalcemia, o nível total de cálcio e o nível de cálcio ionizado ficam abaixo da faixa de referência laboratorial.

A hipocalcemia pode ocorrer após a falha de qualquer um dos mecanismos pelos quais a concentração de cálcio sérico é mantida. Mas geralmente é o resultado de uma falha na secreção do paratormônio ou da incapacidade de liberar cálcio dos ossos.

As características clínicas da hipocalcemia se manifestam amplamente por meio da excitabilidade neuromuscular. A hipocalcemia pode se manifestar de forma aguda e ser de risco de vida; o reconhecimento e a correção precoces são essenciais. Às vezes, a hipocalcemia quantitativamente grave pode se apresentar com poucos sintomas, de início prolongado e crônica.

Fisiopatologia

O cálcio é um dos eletrólitos mais abundantes no corpo, sendo seus níveis rigidamente controlados pelo paratormônio e pela vitamina D. O cálcio é essencial para função celular, estabilidade da membrana celular, transmissão neuronal, fisiologia óssea, homeostase sanguínea e sinalização celular.

Os níveis de cálcio circulante são prejudicados por vários fatores, mas a hipocalcemia é principalmente secundária ao desequilíbrio de absorção, excreção e distribuição de cálcio.

Como 40% do cálcio circulante é ligado à albumina, em uma proporção de 1 mg de albumina para 0.8 mg de cálcio, a medição de albumina é essencial para a interpretação dos níveis totais de cálcio sérico. No entanto, caso se determine o cálcio ionizado, não haverá necessidade de medir a albumina ou ajustar o valor da concentração de cálcio. Aproximadamente 15% do cálcio circulante está ligado a sulfatos, fosfatos, lactato e citrato, e os 45% restantes circulam como cálcio biologicamente ativo em forma ionizada.[1]Cooper MS, Gittoes NJ. Diagnosis and management of hypocalcaemia. BMJ. 2008;336:1298-1302. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2413335 http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18535072?tool=bestpractice.com

Sinais e sintomas

A hipocalcemia varia de uma leve anormalidade bioquímica assintomática até um distúrbio que pode colocar a vida do paciente em risco. A hipocalcemia aguda pode levar a parestesia, tetania e convulsões (sinais físicos característicos podem ser observados, incluindo o sinal de Chvostek, que é pouco sensível e específico de hipocalcemia, e o sinal de Trousseau).[2]Turner J, Gittoes N, Selby P, et al. SOCIETY FOR ENDOCRINOLOGY ENDOCRINE EMERGENCY GUIDANCE: Emergency management of acute hypocalcaemia in adult patients. Endocr Connect. 2016 Sep;5(5):G7-G8. https://ec.bioscientifica.com/view/journals/ec/5/5/G7.xml http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27935815?tool=bestpractice.com [3]Jesus JE, Landry A. Images in clinical medicine. Chvostek's and Trousseau's signs. N Engl J Med. 2012 Sep 13;367(11):e15. https://www.doi.org/10.1056/NEJMicm1110569 http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22970971?tool=bestpractice.com [Figure caption and citation for the preceding image starts]: Espasmo carpopedal (sinal de Trousseau) ocorrido alguns minutos após a insuflação do manguito do esfigmomanômetro acima da pressão arterial sistólicaPedrazzini B et al. BMJ Case Reports 2010;2010:bcr.08.2009.2188 [Citation ends].

Papiledema, catarata, calcificações dos gânglios da base e alterações da pele, cabelos e dentes podem ocorrer com a hipocalcemia crônica. As manifestações neuropsiquiátricas incluem demência em adultos, ansiedade, depressão, letargia e sintomas extrapiramidais (parkinsonismo). O exame da pele pode mostrar dermatite, eczema, hiperpigmentação, psoríase, cabelos quebradiços com alopécia em placa e unhas quebradiças com sulcos transversais característicos.[Figure caption and citation for the preceding image starts]: Distrofia ungueal decorrente da hipocalcemiaNijjer S et al. BMJ Case Reports 2010;2010:bcr.08.2009.2216 [Citation ends]. Pacientes raramente podem apresentar insuficiência cardíaca congestiva, angina e hipotensão.