A hipertensão é uma doença comum que afeta uma grande proporção da comunidade. Geralmente, é assintomática, sendo detectada em exames de rotina ou após a ocorrência de uma complicação, como ataque cardíaco ou acidente vascular cerebral (AVC).[1]Lip GY. Hypertension, platelets, and the endothelium: the "thrombotic paradox" of hypertension (or "Birmingham paradox") revisited. Hypertension. 2003 Feb;41(2):199-200.
http://hyper.ahajournals.org/cgi/content/full/41/2/199
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12574081?tool=bestpractice.com
As diretrizes de 2017 do ACC/AHA para a prevenção, detecção, avaliação e manejo da pressão arterial em adultos definem hipertensão como qualquer pressão arterial sistólica ≥130 mmHg ou qualquer pressão arterial diastólica ≥80 mmHg.[2]Whelton PK, Carey RM, Aronow WS, et al. 2017 ACC/AHA/AAPA/ABC/ACPM/AGS/APhA/ASH/ASPC/NMA/PCNA guideline for the prevention, detection, evaluation, and management of high blood pressure in adults. J Am Coll Cardiol. 2018 May 15;71(19):e127-248.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29146535?tool=bestpractice.com
As categorias de pressão arterial do ACC/AHA são definidas da seguinte forma:
Pressão arterial elevada: pressão arterial sistólica 120-129 mmHg e pressão arterial diastólica <80 mmHg
Hipertensão de estágio 1: pressão arterial sistólica 130-139 mmHg e/ou pressão arterial diastólica 80-89 mmHg
Hipertensão de estágio 2: pressão arterial sistólica ≥140 mmHg e/ou pressão arterial diastólica ≥90 mmHg.
A definição das diretrizes de 2017 do ACC/AHA representa uma abordagem mais agressiva para o diagnóstico e tratamento da hipertensão, comparada às recomendações do Joint National Committee (JNC) 7 e JNC 8, segundo as quais a pressão arterial na faixa de 120-139 mmHg/80-89 mmHg é considerada pré-hipertensão e a pressão arterial > 140/90 mmHg é considerada elevada.[3]Chobanian AV, Bakris GL, Black HR, et al. The seventh report of the Joint National Committee on Prevention, Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Pressure: the JNC 7 report. JAMA. 2003 May 21;289(19):2560-72.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12748199?tool=bestpractice.com
[4]James PA, Oparil S, Carter BL, et al. 2014 evidence-based guideline for the management of high blood pressure in adults: report from the panel members appointed to the Eighth Joint National Committee (JNC 8). JAMA. 2014 Feb 5;311(5):507-20.
http://jama.jamanetwork.com/article.aspx?articleid=1791497
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24352797?tool=bestpractice.com
A publicação das diretrizes de 2017 do ACC/AHA gerou um grande debate, e há pedidos de revisão dessas recomendações. A implementação da diretriz aumentaria a prevalência de hipertensão em 26.8% nos EUA. Existe uma preocupação no sentido de que classificar um número maior de pacientes como hipertensos aumentaria a morbidade psicológica, além de expor pacientes de baixo risco aos danos potenciais dos medicamentos anti-hipertensivos.[5]Khera R, Lu Y, Lu J, et al. Impact of 2017 ACC/AHA guidelines on prevalence of hypertension and eligibility for antihypertensive treatment in United States and China: nationally representative cross sectional study. BMJ. 2018 Jul 11;362:k2357.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6039831
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29997129?tool=bestpractice.com
As diretrizes de 2017 do ACC/AHA baseiam-se principalmente nos resultados do ensaio clínico SPRINT, que investigou o tratamento intensivo ou padrão da hipertensão em indivíduos com pressão arterial sistólica ≥130 mmHg com risco cardiovascular elevado (mas sem diabetes).[6]SPRINT Research Group; Wright JT Jr, Williamson JD, Whelton PK, et al. A randomized trial of intensive versus standard blood-pressure control. N Engl J Med. 2015 Nov 26;373(22):2103-16.
https://www.nejm.org/doi/10.1056/NEJMoa1511939
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26551272?tool=bestpractice.com
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BMJ Best Practice Podcast: hypertension
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As categorias de pressão arterial das diretrizes europeias são definidas da seguinte forma:[7]McEvoy JW, McCarthy CP, Bruno RM, et al. 2024 ESC guidelines for the management of elevated blood pressure and hypertension. Eur Heart J. 2024 Oct 7;45(38):3912-4018.
https://academic.oup.com/eurheartj/article/45/38/3912/7741010
Pressão arterial elevada: pressão arterial sistólica no consultório de 120-139 mmHg e pressão arterial diastólica no consultório de 70-89 mmHg
Hipertensão: pressão arterial sistólica no consultório ≥140 mmHg ou pressão arterial diastólica no consultório ≥90 mmHg.
Para que seja feito o diagnóstico de pressão arterial elevada ou hipertensão, as diretrizes europeias recomendam a confirmação com medições fora do consultório, ou pelo menos uma nova medição no consultório na consulta subsequente.[7]McEvoy JW, McCarthy CP, Bruno RM, et al. 2024 ESC guidelines for the management of elevated blood pressure and hypertension. Eur Heart J. 2024 Oct 7;45(38):3912-4018.
https://academic.oup.com/eurheartj/article/45/38/3912/7741010
A hipertensão sistólica isolada é definida como pressão arterial sistólica ≥140 mmHg, com uma pressão arterial diastólica <90 mmHg.[7]McEvoy JW, McCarthy CP, Bruno RM, et al. 2024 ESC guidelines for the management of elevated blood pressure and hypertension. Eur Heart J. 2024 Oct 7;45(38):3912-4018.
https://academic.oup.com/eurheartj/article/45/38/3912/7741010
O National Institute for Health and Care Excellence do Reino Unido afirma que o diagnóstico de hipertensão é confirmado nos pacientes com:[8]National Institute for Health and Care Excellence. Hypertension in adults: diagnosis and management. Nov 2023 [internet publication].
https://www.nice.org.uk/guidance/ng136
pressão arterial clínica ≥140/90 mmHg, e
médias ao monitoramento ambulatorial da pressão arterial diurno ou ao monitoramento residencial da pressão arterial de ≥135/85 mmHg.
Embora diferentes estudos usem uma variedade de pontos de corte para o diagnóstico da hipertensão na comunidade, toda pressão arterial sistólica >120 mmHg é associada a um risco cardiovascular aumentado. A importância da hipertensão é sua relação com outros fatores de risco cardiovascular e o consequente risco cardiovascular geral.
A AHA define a hipertensão resistente como:[9]Carey RM, Calhoun DA, Bakris GL, et al. Resistant hypertension: detection, evaluation, and management: a scientific statement from the American Heart Association. Hypertension. 2018 Nov;72(5):e53-90.
https://www.ahajournals.org/doi/full/10.1161/HYP.0000000000000084
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30354828?tool=bestpractice.com
Pressão arterial clínica >130/80 mmHg, apesar do uso concomitante de pelo menos 3 agentes anti-hipertensivos (inclusive um inibidor da ECA ou antagonista do receptor de angiotensina, um bloqueador dos canais de cálcio de ação prolongada e um diurético) na dose máxima ou na dose máxima tolerada.
Considera-se que os pacientes que precisam de 4 ou mais agentes anti-hipertensivos para alcançar a pressão arterial desejada tenham hipertensão resistente. O diagnóstico requer a exclusão da hipertensão do jaleco branco e da baixa adesão à medicação anti-hipertensiva.
Este tópico aborda a avaliação da hipertensão em adultos.
Epidemiologia
De acordo com análises globais de tendências em hipertensão, o número de adultos com 30-79 anos com hipertensão aumentou de 650 milhões para 1.28 bilhão no período de 1990-2019.[10]NCD Risk Factor Collaboration (NCD-RisC). Worldwide trends in hypertension prevalence and progress in treatment and control from 1990 to 2019: a pooled analysis of 1201 population-representative studies with 104 million participants. Lancet. 2021 Sep 11;398(10304):957-80.
https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(21)01330-1/fulltext
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/34450083?tool=bestpractice.com
Com base em dados do National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES) de 2017-2020, estima-se que 122.4 milhões de adultos nos EUA ≥20 anos têm hipertensão (definida como uso autorrelatado de medicamento anti-hipertensivo, PA sistólica ≥130 mmHg ou PA diastólica ≥80 mmHg).[11]Martin SS, Aday AW, Almarzooq ZI, et al. 2024 heart disease and stroke statistics: a report of US and global data from the American Heart Association. 2024 Feb 20;149(8):e347-913.
https://www.ahajournals.org/doi/full/10.1161/CIR.0000000000001209
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/38264914?tool=bestpractice.com
Nesse período, a prevalência da hipertensão foi de 28.5% entre indivíduos com 20-44 anos, 58.6% entre indivíduos com 45-64 anos e 76.5% entre indivíduos com ≥65 anos.[11]Martin SS, Aday AW, Almarzooq ZI, et al. 2024 heart disease and stroke statistics: a report of US and global data from the American Heart Association. 2024 Feb 20;149(8):e347-913.
https://www.ahajournals.org/doi/full/10.1161/CIR.0000000000001209
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/38264914?tool=bestpractice.com
A prevalência pode ser similar ou maior na Europa Ocidental.[12]Falaschetti E, Mindell J, Knott C, et al. Hypertension management in England: a serial cross-sectional study from 1994 to 2011. Lancet. 2014 May 31;383(9932):1912-9.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24881995?tool=bestpractice.com
[13]Lacruz ME, Kluttig A, Hartwig S, et al. Prevalence and incidence of hypertension in the general adult population: results of the CARLA-cohort study. Medicine (Baltimore). 2015 Jun;94(22):e952.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4616348
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26039136?tool=bestpractice.com
Em 2010, a prevalência global padronizada por idade da hipertensão em adultos com ≥20 anos de idade foi estimada em 31.1%; 28.5% em países de renda alta e 31.5% em países de rendas baixa e média.[14]Mills KT, Bundy JD, Kelly TN, et al. Global disparities of hypertension prevalence and control: a systematic analysis of population-based studies from 90 countries. Circulation. 2016 Aug 9;134(6):441-50.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4979614
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27502908?tool=bestpractice.com
Constatou-se que a prevalência por sexo difere com a idade, com uma prevalência maior nos homens que nas mulheres com idade <65 anos, mas maior nas mulheres que nos homens com idade ≥65 anos.[11]Martin SS, Aday AW, Almarzooq ZI, et al. 2024 heart disease and stroke statistics: a report of US and global data from the American Heart Association. 2024 Feb 20;149(8):e347-913.
https://www.ahajournals.org/doi/full/10.1161/CIR.0000000000001209
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/38264914?tool=bestpractice.com
[14]Mills KT, Bundy JD, Kelly TN, et al. Global disparities of hypertension prevalence and control: a systematic analysis of population-based studies from 90 countries. Circulation. 2016 Aug 9;134(6):441-50.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4979614
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27502908?tool=bestpractice.com
A prevalência da hipertensão é maior em negros que em brancos, começando na infância; 76% dos homens e mulheres negros desenvolvem hipertensão até os 55 anos, comparados a 55% e 40% dos homens e mulheres brancos, respectivamente.[15]Thomas SJ, Booth JN 3rd, Dai C, et al. Cumulative incidence of hypertension by 55 years of age in blacks and whites: the CARDIA study. J Am Heart Assoc. 2018 Jul 11;7(14).
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6064834
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29997132?tool=bestpractice.com
É difícil estimar a prevalência exata da hipertensão, pois geralmente é assintomática. Essa prevalência deve aumentar porque o valor de "corte" para a hipertensão foi redefinido para um nível mais baixo.
Aproximadamente 15% dos pacientes com hipertensão têm hipertensão resistente.[9]Carey RM, Calhoun DA, Bakris GL, et al. Resistant hypertension: detection, evaluation, and management: a scientific statement from the American Heart Association. Hypertension. 2018 Nov;72(5):e53-90.
https://www.ahajournals.org/doi/full/10.1161/HYP.0000000000000084
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30354828?tool=bestpractice.com
Complicações e danos nos órgãos mediados pela hipertensão
Estudos mostram que o tratamento da hipertensão pode reduzir a incidência de eventos cardiovasculares e cerebrovasculares futuros.[16]Ogden LG, He J, Lydick E, et al. Long-term absolute benefit of lowering blood pressure in hypertensive patients according to the JNC VI risk stratification. Hypertension. 2000 Feb;35(2):539-43.
http://hyper.ahajournals.org/cgi/content/full/35/2/539
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10679494?tool=bestpractice.com
[17]D'Anci KE, Tipton K, Hedden-Gross A, et al. Effect of intensive blood pressure lowering on cardiovascular outcomes: a systematic review prepared for the 2020 U.S. Department of Veterans Affairs/U.S. Department of Defense Guidelines. Ann Intern Med. 2020 Dec 1;173(11):895-903.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/32866419?tool=bestpractice.com
O objetivo do diagnóstico e do tratamento precoces da hipertensão é reduzir o risco cardiovascular geral e prevenir eventos cerebrovasculares.
Os efeitos da hipertensão crônica nos sistemas de órgãos são denominados danos aos órgãos mediados pela hipertensão.
A hipertrofia ventricular esquerda, a doença cardiovascular, a doença cerebrovascular, a retinopatia hipertensiva e a nefropatia são as manifestações mais comuns.[18]Nadar SK, Tayebjee MH, Meserelli F, et al. Target organ damage in hypertension: pathophysiology and implications for drug therapy. Curr Pharm Des. 2006;12(13):1581-92.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16729871?tool=bestpractice.com
A presença de hipertrofia ventricular esquerda é sinal de prognóstico ruim, e a regressão da hipertrofia ventricular esquerda melhora o prognóstico.[19]Lewington S, Clarke R, Qizilbash N, et al. Age-specific relevance of usual blood pressure to vascular mortality: a meta-analysis of individual data for one million adults in 61 prospective studies. Lancet. 2002 Dec 14;360(9349):1903-13.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12493255?tool=bestpractice.com
Os pacientes com hipertensão resistente têm maior risco de apresentar eventos cardiovasculares e cerebrovasculares e de desenvolver doença renal crônica.[9]Carey RM, Calhoun DA, Bakris GL, et al. Resistant hypertension: detection, evaluation, and management: a scientific statement from the American Heart Association. Hypertension. 2018 Nov;72(5):e53-90.
https://www.ahajournals.org/doi/full/10.1161/HYP.0000000000000084
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30354828?tool=bestpractice.com
Risco cardiovascular
As diretrizes para o manejo da hipertensão enfatizam a importância de calcular e administrar o risco cardiovascular geral de um paciente, em vez de concentrar-se apenas nas leituras da pressão arterial. O ACC e a AHA publicaram uma ferramenta online para calcular o risco de doença cardiovascular aterosclerótica em 10 anos e para a vida toda.
ACC: ASCVD Risk Estimator Plus
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Para indivíduos na faixa de 40-70 anos de idade, cada incremento de 20 mmHg na pressão arterial sistólica ou de 10 mmHg na pressão arterial diastólica no intervalo de 115/75 a 185/115 mmHg duplica o risco de doença cardiovascular.[20]Blair SN, Goodyear NN, Gibbons LW, et al. Physical fitness and incidence of hypertension in healthy normotensive men and women. JAMA. 1984 Jul 27;252(4):487-90.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/6737638?tool=bestpractice.com
A European Society for Cardiology propôs que limiares específicos por sexo podem ser adequados, uma vez que níveis mais baixos de pressão arterial estão associados a um maior aumento do risco de doença cardiovascular nas mulheres.[21]Gerdts E, Sudano I, Brouwers S, et al. Sex differences in arterial hypertension. Eur Heart J. 2022 Dec 7;43(46):4777-88.
https://academic.oup.com/eurheartj/article/43/46/4777/6711154?login=false
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/36136303?tool=bestpractice.com
O tratamento dos fatores de risco cardiovascular associados, como a obesidade, a diabetes, a hipercolesterolemia e o tabagismo, é tão importante quanto o tratamento da hipertensão para reduzir o risco cardiovascular geral.